intérpretes, explicadores

Na linha das novas profissões que surgem pelo mundo, achei bem interessante a proposta da National Association for Interpretation, que valoriza o patrimônio natural e cultural das comunidades locais através do estímulo à busca de lugares e histórias que no mais das vezes permanecem escondidos, desconhecidos delas mesmas. E o melhor é a produção de informação adaptável aos interesses dos mais diversos públicos.

narradores de javeEm sua Conferência anual, em março próximo, a NAI debaterá a difusão dessas técnicas visando o desenvolvimento de um turismo histórico sustentável, que estimule e beneficie as economias locais.

Não sei porque, mas lembrei do delicioso filme Narradores de Javé.

mal traçadas linhas

wsalles“A alta burguesia é caricata.”

Walter Salles, cineasta, que reconhece ser originário dessa classe social, mas ressalta ter começado vários roteiros de filmes sobre ela e acabou não levando adiante por julgar que careciam de nível de complexidade necessária para ultrapassar o patamar da caricatura. (Folha de SP)

virando gente

Dizem os historiadores que quanto mais avançamos no futuro mais nos aproximamos do passado, e não se trata de nenhuma lei do eterno retorno ou coisa parecida. Ocorre que quanto mais a arqueologia e a paleoantropologia aprimoram técnicas e instrumentos de suas pesquisas, melhor decifram as pistas sobre de onde viemos e como nos tornamos o que somos: esses esquisitos e imponderáveis seres humanos.

Becoming Human é um dos mais interessantes documentários interativos que já vi, indicado para quem quer se atualizar no paciente estudo de nossas origens. Não é uma historinha ao estilo Alegoria da Criação cuja função é apaziguar consciências, mas sim de situar as descobertas no longo e tumultuado trajeto/processo que nos trouxe até aqui.

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Agora, duro mesmo neste cenário é escolher por qual montanha começar a escavar.

lógica proustiana

little miss sunshine“Cada qual considera claras as idéias que estão
no mesmo grau de confusão que as suas”
– Proust

A frase vem da wikiquote inspirada no divertido filme Little Miss Sunshine, que assisti no último feriado. Uma bem dosada mistura de crítica à sociedade do espetáculo, do sucesso, que me agradou pela capacidade de alternar emoções e absurdos dentro de um roteiro simples e barato, onde todos trabalham bem. Valeu.

a onda e a barca

Vem aí o documentário que inaugura um novo modo de fazer campanha política em tempos globalizados: An inconvenient truthUma verdade inconveniente.

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Dífícil imaginar a diferença do mundo hoje se Al Gore tivesse ocupado o lugar que ficou com Bush. Improvável que ele detivesse furacões, quando muito não os teria piorado. Guardadas as devidas proporções, esta comparação me levou a fazer outra, entre Lula e Alckmin. Partindo do pressuposto de que nenhum deles me convence, a quem prefiro fazer oposição?

Há sim distinções profundas entre os candidatos brasileiros, não só tomados parte a parte, como também contextualizados: o PSDB dominando São Paulo, Minas e boa parte do Congresso, tá de bom tamanho pra fazer oposição. Se Alckmim ganhasse, o governo ficaria insuportável, asfixiaria a já rala atmosfera política. Não sei se as pesquisas que colocam Lula 20 pontos à frente indicam uma intuição popular nesta direção ou outra coisa qualquer, mas estou nessa: dos males o menor, voto em Lula.

Agora, saindo da questão doméstica e voltando ao mundo maior, vale a pena ver o trailer, o site, comentários e principalmente o filme quando entrar em cartaz no mês que vem. Gostemos ou não, estamos na mesma barca e é preciso escolher o lado em que colocamos o peso do corpo (e das idéias) para tentar redirecioná-la.

Mantendo, claro, o espírito crítico de quem vê propaganda política bem produzida. Como lembra o influente ambientalista Bjørn Lomborg, Al Gore nos assusta com suas ondas de 6 metros invadindo os continentes, enquanto cientistas ligados às Nações Unidas dizem que a elevação do nível do mar atingirá 30 a 50 centímetros no próximo século.

gostei do título

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A história é sobre Verônica, uma garota que tem TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Ela tem mania de tudo, de limpeza, de organização e de colecionar curiosidades. Uma mistura de Amelie Poulain, Lola (Corra Lola, corra) e de garotas “más” que sempre povoaram as festas da cidade baixa e da minha imaginação. Verônica que vive só, em cima de um bar (Beco203), cansada dessa vida decide por fim em tudo tomando belos comprimidos verdes. Esperando que o efeito venha, ela descobre em um jornal de bairro que mais tarde vai passar um programa na televisão sobre curiosidades. Neste momento acontece a virada do filme, onde a personagem precisa correr se quiser voltar atrás. – Everson Klein (roteirista).

Ainda não vi o filme, o roteiro parece ir do trágico-mórbido ao eutrapélico, mas ainda preciso confirmar se são estas palavras que quero dizer. Bóra assistir.

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E vem aí 420 filmes em 14 dias da 30ª Mostra de Cinema de São Paulo.

30 mostra de cinema de sampa

Escolher os filmes  é um caso típico de transdisciplinar a dispersão. 😉

a-team (saúde!)

Catei este artigo no digg para ler com calma,
depois que voltar do cinema.

A-Team Stands for Anarcho-Capitalism

-> e vou assistir O Libertino.
Vixi, será que ando monotemático?
😉

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  • [20/07/06] Pois é. Vi o filme e achei fraquinho. Primeiro porque o libertino apavora mais é a si mesmo, sua idéia egocentrada de liberdade tem mais jeito de prisão, e pior de tudo, é uma história mal contada. Depois, li o texto sobre anarco-capitalismo e descobri que se trata de uma análise sobre um seriado dos anos oitenta – do qual nunca ouvi falar porque pouco assisto tevê, ainda mais enlatados. Preciso tomar mais cuidado com o que publico aqui.

em qualquer lugar

miacouto01.jpgUm rio chamado tempo, uma casa chamada terra, livro do moçambicano Mia Couto que vou lendo agora, é desses que, no modo de narrar os fatos, descrever as pessoas, lugares e tramas, amplia as margens e possibilidades da própria língua. Não é à tôa que Mia Couto é situado pela crítica entre Guimarães Rosa e José Saramago.

Veja nesse trecho como ele trata o desprezo que políticos contemporâneos, de qualquer lugar, inspiram nas pessoas comuns:

“Cruzamo-nos com um luxuoso automóvel enterrado no areal. Quem traria viatura da cidade para uma ilha sem estrada?

Olha, é o Tio Ultímio! – e acenam.

Meu Tio Ultímio, todos sabem, é gente grande na capital, despende negócios e vai politicando consoante as conveniências. A política é a arte de mentir tão mal que só pode ser desmentida por outros políticos. Ultímio sempre espalhou enganos e parece ter lucrado, acumulando alianças e influências. No entanto, ele ali se apresenta frágil, à mercê de uma pobre mão. No tractor comentam vastamente o carro afocinhado, rodas enfronhadas na areia. Mas não param. Ainda há alguns que insistem nos deveres solidários. Mas Fulano Malta é terminante:

Ele que se desenterre – é sua arreganhada sentença.”

O livro, enfim, é poesia pura tratando do indigesto tema da morte e do vazio afetivo das ambiciosas elites. Até virou filme, mas pelo que consta, não agradou.

a grande família

marco naniniEm rápida entrevista ao PopTevê, Marco Nanini revela que no filme "A Grande Família", produzido em paralelo aos episódios televisivos, seu personagem Lineu vai morrer. Triste notícia? Então segura aí: Nanini também faz uma constatação das mais óbvias, mas nem por isso banal. Numa tranquilidade à base de Florais de Bach, reconhece que "a parte ética do Lineu está tão fora de moda no Brasil que já virou até um ponto de comédia".

Sim, as primeiras lições da vida político-partidária assim como do mundo dos negócios (não só no Brasil) parecem atestar que ética é verniz de discursos e que os verdadeiros éticos não passam de tolos. Para quem não engole essa história direito, vale aguardar mais uns dias: tem um povo invocado por aí preparando umas certas Invasões Éticas para as eleições desse ano. Quem sabe, um número maior de pessoas poderá rir também. De verdade, não de nervoso.

grandes jornais

Da série especial que Valor Online publica sobre imprensa, escrita por Matías Molina, diretor de análise de informação internacional da CDN , destaque para esse trecho:

“Para sobreviver, alguns dos grandes jornais perderam alguma coisa pelo caminho. Em várias ocasiões, ao optar entre a ordem – e com ela a ditadura – e a justiça e a liberdade, defenderam a primeira. Essas decisões, em que os interesses predominam sobre os princípios, certamente não são mencionadas em suas histórias oficiais.”

historia oficialAliás, História Oficial, de Luis Puenzo, é um filme inesquecível. Já viu?

palavras de amor

bee season

Fui com Marina, minha filha de 11 anos, assistir Palavras de Amor, filme que aborda, entre outras coisas, o relacionamento de um pai com sua filha de 11 anos. Entre as outras coisas, a história mostra a busca por Deus em diferentes linguagens e como essa aproximação pode desestruturar vidas familiares aparentemente tranquilas. Conhecer um pouco de cabala ajuda a entender o enredo.