visão das cores

Some languages explain the entire color spectrum in two or three words–eschewing everything except maybe “light” or “dark” — while others might classify more than 60 relatively obscure colors.
http://www.popsci.com/science/article/2012-12/color-wheel-languages-around-world-infographic?src=SOC&dom=fb
canvas

o raio

raio

Aconteceu-me uma vez, num cruzamento, no meio da multidão, no vaivém. Parei, pisquei os olhos: não entendia nada. Nada, rigorosamente nada: não entendia as razões das coisas, dos homens, era tudo sem sentido, absurdo. E comecei a rir.

Para mim, o estranho naquele momento foi que eu não tivesse percebido isso antes. E tivesse até então aceitado tudo: semáforos, veículos, cartazes, fardas, monumentos, essas coisas tão afastadas do significado do mundo, como se houvesse uma necessidade, uma coerência que ligasse umas às outras.

Então o riso morreu em minha garganta, corei de vergonha. Gesticulei, para chamar a atenção dos passantes e – Parem um momento! – gritei – tem algo estranho! Está tudo errado! Fazemos coisas absurdas! Este não pode ser o caminho certo! Onde vamos acabar?

As pessoas pararam ao meu redor, me examinavam, curiosas. Eu continuava ali no meio, gesticulava, ansioso para me explicar, torna-las participantes do raio que me iluminara de repente: e ficava quieto. Quieto, porque no momento em que levantei os braços e abri a boca a grande revelação foi como que engolida e as palavras saíram de mim assim, de chofre.

– E daí? – perguntaram as pessoas. – O que o senhor quer dizer? Está tudo no lugar. Está tudo andando como deve andar. Cada coisa é conseqüência da outra. Cada coisa está vinculada às outras. Não vemos nada de absurdo ou de injustificado!

E ali fiquei, perdido, porque diante dos meus olhos tudo voltara ao seu devido lugar e tudo me parecia natural, semáforos, monumentos, fardas, arranha-céus, trilhos de trem, mendigos, passeatas; e no entanto não me sentia tranqüilo, mas atormentado.

– Desculpem – respondi. – Talvez eu é que tenha me enganado. Tive a impressão. Mas está tudo no lugar. Desculpem. – E me afastei entre seus olhares severos.

Mas, mesmo agora, toda vez (freqüentemente) que me acontece não entender alguma coisa, então, instintivamente, me vem a esperança de que seja de novo a boa ocasião para que eu volte ao estado em que não entendia mais nada, para me apoderar dessa sabedoria diferente, encontrada e perdida no mesmo instante.

[ Ítalo Calvino, no livro Um General na Biblioteca. Foto: …plop v3… ]

a estética da informação

O volume alucinante de informação produzida no dia a dia (do qual retemos e manejamos apenas uma parte) torna essencial a pesquisa de novas formas de organizar e apresentar dados complexos de maneira simples e inteligível. Dessa necessidade vão brotando novas linguagens, novos formatos, novas filosofias.

Para quem trabalha na área, ou mesmo para contadores de histórias que desejam explorar os novos meios de comunicação, o blog information aesthetics, do professor da Universidade de Sidney, Andrew Vande Moere, é uma indispensável fonte de conhecimento e inspiração.

complexification

Complexification é outro site que também serve aos mesmos propósitos.

cadê o eleitor?

fogos de artificioComparo o processo eleitoral a chegada do ano novo. A virada, meia-noite, é o dia da votação.

Fogos de artifício pipocam nos céus, produzem sons e figuras notáveis, mas o auê vira fumaça e some rapidinho, como político junto ao povo após a eleição.

Friza imagem: figuras de fogos de artifício duram segundos, minutos, enquanto os políticos eleitos legislam, governam e você-sabe-mais-o-quê o país por quatro ou oito anos.

O eleitor, para quem não percebeu, é todo aquele fundo escuro ali, que já está antes e permanece depois da festa, e que permite aparecerem as cores e os brilhos dos fogos ou os risos e as promessas dos políticos.

O eleitor é o céu do país.

skywatching

planetas, satélites, mundos

A novidade do dia – que já explicaram, não altera o dia a dia – é a mudança de categoria de Plutão. Uns dizem rebaixamento porque ele deixou de ser Planeta, mas isso é pura mania humana de a tudo hierarquizar, seja na Terra como no céu.

via lactea

A recategorização revela o quanto ainda somos auto-referentes, isto é, nem passou pela cabeça dos 2.500 astrônomos reunidos em Praga questionar se a Terra ainda é um planeta. Tenho minhas dúvidas e meu argumento é o seguinte: existe outro corpo celeste no universo que fabrique seus próprios satélites e produza lixo espacial? Planetas fazem isso?

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Falar em satélites, aí está a primeira imagem da Terra feita da Lua (precursora das que inspiraram o presidiário Caetano Veloso). Sabe quando foi tirada? 23 de agosto de 1966, exatos 40 anos e um dia atrás.

terraterra.png

cybugs: os insetos cyborgs

whale_wspaA Sociedade Mundial de Proteção Animal (WPSA) inaugurou este mês, em Londres, uma exposição itinerante de fotos com o pior e o melhor no tratamento dispensado aos animais em várias partes do mundo. A mostra deve passar por Dinamarca, África, Brasil e Canadá, ainda este ano.

Enquanto isso, as pesquisas com animais correm soltas, também produzindo seus melhores e piores momentos.

Bom exemplo vem do American Institute of Biological Sciences que publicou um recente estudo sobre a contribuição dos insetos para a economia dos Estados Unidos. No mínimo, ameniza o preconceito de que esses bichinhos só causam prejuízo e desconforto.
Além de produtos conhecidos, como mel e seda, o estudo avaliou a participação dos insetos no controle de pragas, na melhoria de estercos e adubos, nos processos de polinização e, por fim, sua contribuição, nem sempre espontânea, para a cadeia alimentar.

Feitos os cálculos, os pesquisadores chegaram ao montante de U$ 57 bilhões, valor considerado conservador pois ainda existiriam outras contribuições mais dificeis de mensurar.

Armas de guerra

cyborg_bugsPor outro lado, a DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), dos EUA, outrora responsável pelo embrião da internet, revela grande interesse em pesquisas que visam transformar insetos (e outros animais) em sensores teleguiados camuflados.

Experiências de implantes neurais são realizadas há anos em ratos, cachorros, macacos, tubarões e sabe-se lá em que mais.

Nos insetos, as interfaces bioeletromecânicas, ou Hybrid Insect Micro Electro Mechanical Systems (HI-MEMS), seriam implantadas no estágio em que a larva se transforma em casulo, como no esquema ao lado.

Em teoria, os insetos poderiam incorporar o chip em seus sistemas nervosos durante esta fase da metamorfose, tornando-se remotamente controláveis ao final do processo.

Os especialistas dividem-se entre excitados, espantados, céticos e irônicos. O biólogo e professor da Universidade de Minnesota, PZ Myers explica em seu blog que dada a complexidade do sistema nervoso dos insetos, essa experiência equivale a colocar um boeing 747 nas mãos de uma criança.

Em pesquisas anteriores com vespas e abelhas, DARPA até registrou um certo sucesso inicial, mas os efeitos se anulam com o tempo. Consta que abelhas até podem ser treinadas para reconhecer pessoas, mas daí a saudá-las e obedecer ordens é outra história.

Na matéria da BBC da qual tirei o esquema acima, o entomologista Dr George McGavin, da Universidade de Oxford, afirma que é muito improvável conectar o aparato tecnológico aos terminais nervosos certos dos insetos, principalmente no que se refere ao controle de vôo.

mib2.jpgDe modo geral, quase todos concordam que há boas chances de que os insetos possam cooperar na detecção de explosivos pelo olfato, mas controlar vôo e outras atitudes seriam coisas mais da ordem da ficção.

Se é assim, além de considerar a iniciativa lamentável, penso que talvez o que o pessoal da DARPA consiga mesmo nessas tentativas é recuperar o prestígio e o emprego desses dois caras aqui ao lado, mister Jones e mister Smith, the men in black.

códigos – I

A Zel fez o favor de me enviar o grafo abaixo que mostra como os navegadores – Firefox, IE, Ópera – enxergam o html a página principal deste blog. Louco, hem?

zel flores

Todo o código-fonte, blocos de textos, citações, imagens e links estão aí representados (se bem que parecem estar de ponta cabeça). Brincadeira desse rapaz que toca teclado numa banda alemã, e, no momento, faz mais sucesso teclando como programador.

O significado das cores:
azul : os links (todos)
vermelho : as tabelas (no caso aqui, nenhuma)
verde : as tag DIV
violeta : as imagens
amarelo : os formulários (busca, comentários)
laranja : as citações
preto : toda a estrutura HTML
cinza : todas as outras marcações

..^..

Essa coisa de código me pegou porque, na qualidade de eleitor 2006, estou com vontade (e preguiça) de ler o Código Eleitoral Brasileiro (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965), imaginando como seria ótimo ter outras formas de decifrar esse código.

[sim, sou do tipo que lê bulas, embalagens de alimentos, termos de uso de programas, a constituição do país, todos os contratos que assino e mais um monte de baboseiras que nem deveria]

Adendo: 2 anos depois, o novo grapho

espelho, espelho meu

Existe alguém mais ferrado que eu? [ da série: aiaiai ]

Cientistas criam espelho que “prevê o futuro” – (Ansa)

espelhomeuOs especialistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, conseguiram desenvolver um espelho que pode prever o futuro de um rosto e dizer quais efeitos a pessoa sofrerá caso se alimente da maneira errada, tome sol em excesso, fume ou consuma drogas.

Conhecido como “Espelho Persuasivo”, o dispositivo é o resultado de experimentos para melhorar a qualidade de vida.

Será testado com adolescentes obesos da Universidade da Califórnia. O grupo de jovens deverá enfrentar o espelho, que lhes dirá como se verão no futuro se continuarem alimentando-se de determinada maneira ou abusando de drogas ou da exposição ao sol.

aerólitos

“O ar é uma pele, feita de poros por onde escoa a luz,
gota por gota, como um suor solar.” [ Mia Couto ]

earth

Pensar o ar que respiramos, o céu que imaginamos, como pele, órgão de contato, interface entre o chão de nossos caminhos e o resto do universo, boa maneira de amadurecer a consciência planetária.

sabedoria primitiva

“Um quadro ensina o outro”. Esta frase, de uma simplicidade que beira o óbvio, retrata bem a atual problemática em torno da produção de conhecimentos. Transferida ao mundo digital, pode ser lida da seguinte maneira: um site ensina o outro.

Dela puxamos todo o enrosco que envolve, de um lado, os direitos autorais e a propriedade intelectual, e de outro, os códigos abertos e a cultura livre. Conhecimento, como se vê, tem autor, mas é de propriedade coletiva.

Consta que a frase é do pintor Antonio Poteiro, tido por muitos como primitivista, categoria que me parece ou mal definida ou mal nomeada. Segundo Oscar D’Ambrosio:

“Pode-se considerar o artista primitivista aquele que se caracteriza por ter a si mesmo como único padrão. Sem referências culturais que limitem a sua criatividade e sem dominar um conhecimento teórico e dogmático sobre a sua atividade, ele é um autodidata que produz as suas telas livremente.

Surgem assim artistas imersos em jornadas únicas. Cada um deles não continua uma tradição nem a rompe, pois simplesmente não estudou as vertentes anteriores, não se preocupando com as normas impostas pelas academias e críticos de arte. Seu objetivo é representar uma imagem ou pensamento sem levar em conta qualquer tipo de barreira conceitual ou técnica. O resultado, portanto, dependerá de sua sensibilidade, talento e capacidade de ser, acima de tudo, fiel a si mesmo.

Sem modelos pré-concebidos, os primitivistas (não confundir com os primitivos desenhos das cavernas da Pré-História) enfocam os temas mais variados, predominando cenas da vida cotidiana (rurais ou urbanas), geralmente com minuciosas descrições e precioso detalhismo.”

Prefiro chamar artistas desse gênero de primordiais, mas como, no caso, Antonio Poteiro está se lixando para os rótulos que lhe dão, tá tudo bem também. Enfim, para comemorar a páscoa, achei essa imagem do nosso amigo ‘primitivista’.

ceia dos descamisados

O nome da pintura é “Ceia dos Descamisados”. Bom Feriado.

Atualização do Post em 13/02/2009:

Entrevista com Antonio Poteiro ao Diário da Manhã, de Goiania.

nanoesculturas

As formas lembram as primeiras imagens produzidas por computador em uma côr, somente com caracteres ascii que hoje viraram peixinhos, elefantinhos, vasinhos e cavalinhos (de tróia) a infestar os orkuts da vida.

natureSó que agora, como se diz, o buraco é bem mais embaixo: manipulação átomo por átomo, em escala nanométrica, que significa dividir um milímetro por um milhão e fuçar nos DNAs, recombinar partes de moléculas fazendo nanoesculturas, ou no dizer dos autores, origamis.

Entre elas está o menor mapa das Américas (na imagem ao lado, o último), mais fininho que um fio de cabelo. Não serve para consultas, óbvio, mas atiça um bocado a imaginação de cientistas, pesquisadores e ficcionistas.

A mania de mexer com o muito pequeno vem de longe. Os miniaturistas orientais na Idade Média já brincavam de pintar árvores em grãos de arroz e, imagino, antes deles, outros fazendo arte em presas de mamute, pedrinhas lascadas ou nacos de madeira. O manejo é o mesmo, só mudam os instrumentos e as dimensões. 

phylotaxis

Tratar e organizar informações é um dos maiores desafios de nossos tempos. Phylotaxis tem como proposta mesclar informações científicas e culturais (ainda como se fossem coisas distintas), destacando exatamente a zona de fronteira. Resulta numa fascinante e provocativa experiência, lembrando que Phyllos significa folhas (de plantas, de livros) e Taxis, ordem. Veja lá.

phyllo.jpg

ensinar a piscar

O governo Lula é useiro da expressão: “não adianta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar”, como aliás foram também seus antecessores. Só que os programas sociais dos quais se orgulha são os bolsa-isso bolsa-aquilo (que nem aquilo-tudo são).

Não sei se a pergunta correta a fazer nessa hora é : “o que o governo ensina com essa atitude?”, ou mais intimamente, “o que aprendi até agora com este governo?”

!?