sorriso que bate nas olheiras

Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,

Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,
E, como um nadador que nas águas afunda,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com um lascivo e fluido gozo masculino.

Vai mais, vai mais além do lodo repelente,
Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
E bebe, qual licor translúcido e divino,
O puro fogo que enche o espaço transparente.

Depois do tédio e dos desgostos e das penas
Que gravam com seu peso a vida dolorosa,
Feliz daquele a quem uma asa vigorosa
Pode lançar às várzeas claras e serenas;

Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,
De manhã rumo aos céus liberto se distende,
Que paira sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e das coisas sem voz!

“Elevação”, Charles Baudelaire.

muito pros olhos, pouco pra barriga

A frase acima está simplificada para caber no título. Completa, ela é de Josué de Castro, em seu conto Ciclo do Caranguejo (1935): a saga da família Silva que, perseguida pela fome, foge do árido sertão pernambucano para tentar a sorte na capital (segundo boatos, lá o governo bom cuidava dos pobres e todos podiam comer até se saciar).

Logo de chegada a família viu que a coisa era outra. Não havia dúvida que a cidade era bonita, com tanto palácio e a rua fervilhando de automóvel. Mas a vida do operário, apertado como sempre. Muita coisa para os olhos, pouca coisa para a barriga.

Josué de Castro, médico brasileiro, cidadão do mundo, foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel pela coragem e pioneirismo de suas pesquisas sobre a fome e a miséria. Mesmo como embaixador do Brasil na ONU e gozando de enorme prestígio internacional, teve seus direitos políticos cassados em 1964, nos primeiros tempos da Ditadura Militar. Josué era perigoso para os poderosos “amigos” dos militares. Morreu no exílio quase dez anos depois. Se estivesse vivo, completaria 100 anos ontem, 5 de setembro.

megas x nanos II

decameronNesse tempo de mudanças climáticas e politicos alheios às necessidades dos povos, ocorreu-me transcrever um trecho do livro No Mesmo Barco – Ensaio sobre Hiperpolítica, do filósofo alemão Peter Sloterdijk, como homenagem aos pequenos grupos humanos que aqui e ali teimam em desejar e fazer do mundo um lugar melhor para viver.

Giovanni Boccaccio é o poeta que tornou inesquecível para os europeus o teorema da sobrevivência na pequena comunidade em meio ao desastre do grande. O Decamerão hoje ainda pode ser lido como peça didática sobre a relação entre alegria regenerativa e pequena política.

Depois que a peste irrompeu em Florença, em pouco tempo viu-se decaírem todos os laços burgueses e humanos entre os indivíduos, como se uma peste psíquica tivesse sobreposto a física. A estada na cidade agonizante torna-se um pesadelo para os sobreviventes. Como os florentinos já não sabem se devem temer mais a contaminação ou os saques ou a fome, eles caem numa desorientação equivalente a uma paralisia.

Na cidade que perdeu sua obra conjunta, pois não protege mais o bem-estar dos cidadãos, de repente tudo está perdido e tudo é permitido. Sujeitos de medo atomizados acocoram-se em suas casas ou rebentam na rua. Nessa situação, uma jovem mulher toma a iniciativa e convence seis de suas amigas e três rapazes a retirar-se juntos a uma quinta próxima aos portões da cidade, para se conservarem e resistirem até o fim da praga com serenidade e humanidade. É assim que se chega ao memorável arranjo que prepara o contexto do livro de Boccaccio.

Nessa obra básica do humanismo a frivolidade aparece a serviço das coisas mais sérias. Sherazade narrou em prol da própria vida; os jovens florentinos que se reuniram ao redor da graciosa Pampinea, narram em prol da possibilidade do pertencer-se de pessoas depois da decadência da forma política.

Eles encarnam a decisiva lição de todas as ciências modernas da humanidade: se as grandes ordens se partem, a arte do pertencer-se só pode recomeçar a partir das pequenas ordens. A regeneração do homem pelo homem pressupõe um espaço no qual um mundo se abre com a convivência.

decameron

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no mesmo barco

estirpe

Os mendigos maiores não dizem mais, nem fazem nada. Sabem que é inútil e exaustivo. Deixam-se estar. Deixam-se estar. Deixam-se estar ao sol e à chuva, com o mesmo ar de completa coragem, longe do corpo que fica em qualquer lugar.

Entretêm-se a estender a vida pelo pensamento. Se alguém falar, sua voz foge como um pássaro que cai. E é de tal modo imprevista, desnecessária e surpreendente que, para a ouvirem bem, talvez gemessem algum ai.

Oh! não gemiam, não… Os mendigos maiores são todos estóicos. Puseram sua miséria junto aos jardins do mundo feliz mas não querem que, do outro lado, tenham notícia da estranha sorte que anda por eles como um rio num país.

Os mendigos maiores vivem fora da vida: fizeram-se excluídos. Abriram sonos e silencios e espaços nus, em redor de si. Tem seu reino vazio, de altas estrelas que não cobiçam. Seu olhar não olha mais, e sua boca não chama nem ri. E seu corpo não sofre nem goza. E sua mão não toma nem pede. E seu coração é uma coisa que, se existiu, já esqueceu.

Ah! os mendigos são um povo que se vai convertendo em pedra. Esse povo é que é o meu.

[ Cecília Meirelles ]

longe do equilíbrio

incubus sucubus

Íncubos e Súcubos
(demônios masculinos e femininos que vêm copular com mulheres e homens durante o sono)

* Longe do equilíbrio se produzem fenômenos coerentes, o não equilíbrio é a via mais extraordinária que a natureza encontrou para tornar fenômenos complexos possíveis. A vida humana, reações químicas, relações sociológicas, econômicas,… só são possíveis porque estão longe do equilíbrio. As inúmeras interações, as bifurcações da evolução, a não linearidade dão a complexidade necessária à existência destes sistemas instáveis. “Campos de possibilidades”, diria Umberto Eco. *

[ ler mais ]

anedota espanhola

dostoievski“Coisa de dois séculos e meio passados dizia-se em Espanha, quando os Franceses construíram o primeiro manicômio: «Fecharam num lugar à parte todos os seus doidos para nos fazerem acreditar que têm juízo».

Os Espanhóis têm razão: quando fechamos os outros num manicômio, pretendemos demonstrar que estamos em nosso perfeito juízo. «X endoideceu…; portanto nós temos o nosso juízo no seu lugar».

Não; há tempos já que a conclusão não é lícita.”

Fiodor Dostoievski, in “Diário de um Escritor” (1877)

origem da desigualdade

Entre as narrativas de origem que venho colecionando não poderia faltar o clássico Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, escrito nos idos de 1750 pelo grande inspirador do romantismo e do humanismo Jean-Jacques Rousseau.  

rousseauNo Segundo Discurso, como é chamado (o primeiro trata de Ciências e Artes), Rousseau toma a inscrição do Oráculo de Delfos – conhece-te a ti mesmo – como ponto de partida e de chegada. Assim ele argumenta: “…como conhecer a fonte da desigualdade entre os homens, se não se começar por conhecer os próprios homens?”

Ele então cria a figura do homem natural, primitivo, que é sempre bom, para compará-lo ao de sua época (que pouco mudou em essência até nossos dias), corrompido pelos costumes e pela civilização.

No início da leitura, cheguei a pensar que no tempo em que Rousseau redigiu o Discurso não havia a palavra diversidade, mas ele mesmo a utiliza algumas vezes para referenciar coisas ou qualidades, nunca os humanos.

“Ora, se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da mesma maneira e fazem exatamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela desigualdade de instituição.”

lógica proustiana

little miss sunshine“Cada qual considera claras as idéias que estão
no mesmo grau de confusão que as suas”
– Proust

A frase vem da wikiquote inspirada no divertido filme Little Miss Sunshine, que assisti no último feriado. Uma bem dosada mistura de crítica à sociedade do espetáculo, do sucesso, que me agradou pela capacidade de alternar emoções e absurdos dentro de um roteiro simples e barato, onde todos trabalham bem. Valeu.

o pai das histórias

Lá no meio do livro Se um Viajante…, Italo Calvino introduz o “Pai das Histórias”, um índio de idade imemorial, que se supõe residir numa cidade perdida da América do Sul, encarapitada na Cordilheira dos Andes ou nas florestas do Orinoco. Cego e analfabeto, ele narra ininterruptamente histórias que ocorrem em terras e épocas que nunca conheceu.

crocodiloO fenômeno atraiu ao local expedições de antropólogos e parapsicólogos: apurou-se que muitos dos romances publicados por autores famosos haviam sido narrados, palavra por palavra, pela voz catarrosa do “Pai das Histórias”, vários anos antes de terem sido publicadas.

Segundo alguns, o velho índio seria a fonte universal da matéria narrativa, o magma primordial de que se originam as manifestações individuais de cada escritor; segundo outros, o velho seria um vidente que, sob o efeito de cogumelos alucinógenos, consegue comunicar-se com o mundo interior dos mais fortes temperamentos visionários e captar-lhes as ondas psíquicas.

Se um dia eu quiser inverter a pesquisa sobre Narrativas de Origem para Origem das Narrativas, já sei onde procurar.

doce de pimenta

Para uma doce pimenta nascida no ano em que este video foi gravado.

docepimenta.png

Doce de Pimenta

Cada um vive como pode
E eu não nasci pra sofrer
Cara feia pra mim é fome
E eu não faço manha pra comer

A vida é como uma escola
E a morte é o vestibular
No inferno eu entro sem cola
Mas o céu eu vou ter que descolar

Mas quando alguém precisa de um carinho meu
Não há nada que me prenda
Mas se eu sentir que um bicho me mordeu
Sou mais ardida que pimenta!

No fundo eu sou otimista
Mas eu sempre penso o pior
Me cansa essa vida de artista
Mas cada vez o prazer é maior

Letra e Música: Rita Lee e Roberto de Carvalho
Cantam: Rita Lee e Elis Regina

no princípio era o amor

kristeva amor

O livro tem mais de vinte anos e está fora de catálogo na editora que o publicou no Brasil, além de não constar em outras listagens relevantes. Clássico da psicanálise, serve tanto às minhas pesquisas correntes sobre narrativas de origem, como também, para desfechos. Canto de fênix.

No Princípio era o Amor, belíssimo livro da filósofa, linguista, semióloga, psicanalista, professora e escritora feminista Julia Kristeva :

“Seres falantes, sempre já potencialmente falantes, somos desde sempre igualmente clivados, separados da natureza. Esse desdobramento deixa em nós a marca de processos semióticos pré ou translingüísticos, que são nossa única via de acesso à memória da espécie ou aos mapas neurônicos bioenergéticos.

Estes processos semióticos (inscrições arcaicas dos liames entre nossas zonas erógenas e as do outro, enquanto marcas sonoras, visuais, olfativas, rítmicas) constituem diacronicamente um pré-sujeito (o infans). Sincronicamente, eles figuram a angústia catastrófica (a “paixão”) da psicose melancólica. Eles marcam com sua insistência nossa capacidade de percepção no fundo frágil, e nos povoam de esquecimentos, vertigens, fantasmas.

Somos sujeitos permanentes de uma palavra que nos possui, sem dúvida. Mas sujeitos em processo, em perda incessante de nossa identidade, desestabilizados pelas flutuações dessa mesma relação ao outro, cuja homeostase nos mantém entretanto unificados.

Ao postular esse eclipse da subjetividade nos primórdios de nossa vida, ao ouvir um hiato na subjetividade nos momentos intensos de nossas paixões, o psicanalista não ‘biologiza a essência do homem’, como temia Heidegger.

Ele dota-se, pelo contrário, de uma confiança exorbitante no poder do elo transferencial e da palavra interpretativa, sabedor por experiência de que eles são capazes, uma vez reconhecidos e chamados o eclipse e o hiato do sujeito, de restabelecer sua unidade provisória. Para uma nova entrada em processo, o processo vivo de nossas paixões.”

recusa à pobreza

O II Seminário *Novos Indicadores de Riqueza*, na PUC-SP, centrou-se em análises críticas sobre a utilização do PIB como medidor de riqueza das nações, não faltando exemplos de inadequação deste índice.

PIB mede produção, não importa do quê: guerras elevam o PIB movimentando a indústria bélica; já o trabalho dos 250 mil voluntários da Pastoral da Terra, que melhora a saúde de muita gente, abaixa o PIB, ao economizar gastos em remédios e tratamentos médicos em geral. Supra-sumo da incoerência é tomar os números daí resultantes como riqueza.

..^..

O professor Jean Gadrey, um dos franceses que participavam da video-conferência saiu direto para as atividades da Jornada de Recusa à Pobreza, realizada na França e em outros países.

No Brasil, o destaque ficou com a ONG Natal Voluntários, do Rio Grande do Norte, que chamou a participação de internautas para elaborar sugestões de políticas públicas de combate à pobreza.

Apenas no último fim de semana prolongado, foram enviadas 15 mil sugestões. O material será organizado e apresentado ao próximo presidente em primeiro de janeiro, dia da posse.

horário cultural gratuito

Espaço reservado para os amigos do Clube do Dendê.

Sexta-feira tem tango-batuque no Espaço Miscelânea Cultural!

O Club do Dendê é o clube do samba-sem-chuchu que apresenta o famigerado partido alto, desde a raiz até suas flores mais belas. Tem samba-canção e samba-enredo também; marcha, velha-guarda e até um pagode passa por aqui às vezes, vacilando. Só não tem chuchu.

Pra quem se espreme de medo do príncipe da Opus-Dei chegar ao poder e o Vaticano virar a capital do Brasil, venha celebrar a difamação e o escárnio próprio dos fandangos mamelucos realizando um desfile fanfarrado de sincope popular, escancarando nossos hábitos desmedidos e sinuosos de quem inventa a vida.

Pra você que cansou da cantilena mal contada dos antigos vermelhos, que agora estão roxos pra permanecer no poder, pra você que não agüenta mais o esbugalhado da Serra, ou o Maluf candidato a síndico de asilo ou ainda o Clodovil estrela na TV Câmara, aprochegue-se…

Venha celebrar uma xiba de violão baiano. Marchemos juntos ao batuque da resistência de nossa cultura aversa ao espetáculo, pedestre em suas convicções e enraizada nos lundus de alma negra.

Às sextas sejamos todos artistas. Não precisamos de claquete, de contra-regra ou de âncora. Preferimos a farofa, a vela e algum vintém. Quem quiser chegar de chapéu, lenço e tamanco também vem. Cabe todo mundo desafetado da indústria do espetáculo e ritmado pelos batuques de uma cultura transnacional de quem trabalha.

O povo perde o governo, mas não perde a piada…

tiao carvalho
Nesta sexta, 06/10, a festa estará mais completa com a presença do querido Tião Carvalho, grande multiplicador de cultura popular pelas esquinas de cá.

O Espaço Miscelânea Cultural fica em Pinheiros, na rua Álvaro Anes, 91. É bem perto da FNAC da rua Pedroso de Moraes, sabe? Couvert: 3 r$. Entrada: 3 r$

Tá. Não é gratuito mas é bem baratinho. Pensa que só os políticos podem mentir?

os alienistas

sem manicomiosLoucura é assunto ultra-delicado, terreno de enormes sofrimentos, preconceitos, ignorância, descasos e o pior, de uso abusivo por parte das indústrias famacêuticas para engordar ainda mais seus lucros.

A luta anti-manicomial está aí há décadas enfrentando essas poderosas forças em nome de tratamentos mais dignos, humanos, eficazes e, acima de tudo, para criar uma visão melhor estruturada sobre os problemas mentais-emocionais.

Para quem se interessa pelo tema, a revista Viver publica artigo sobre o histórico dessa luta, escrito pelo psiquiatra Paulo Amarante, autor do livro Loucos pela vida. Entre outras coisas, ele diz:

Quando uma sociedade defende que uma parte dos seus membros não pode conviver com os demais, cumpre a nós compreendermos os motivos e intervir. Por que não podem viver como nós, conosco, em nosso meio? Por que são negros? Por que são índios? Por que são loucos?

o rótulo riqueza

deformameNo embalo do post anterior, passei a pesquisar a polissemia – variação de significados – da palavra riqueza. É fácil fazer isso, embora um tanto quanto insano, a partir dos sites de pesquisa na internet. Digite riqueza, lixo ou drogas, e pire com a profusão de usos de qualquer palavra dessas.

Mas a busca tem lá suas justificativas e objetivos. A idéia de ser rico, afinal, molda o desejo e a razão de viver de muitas pessoas, ao mesmo tempo em que desperta asco e preconceito em outras. Por que?

Do sinal ao significado

Num plano bem genérico, riqueza é um conjunto de valores, porém, nos principais dicionários e na wikipedia (valha-me!), o foco é dado ao acúmulo de dinheiro e de bens materiais: riqueza é definida como concentração de posses.

Fora dos almanaques, digo, na vida real, é bem fácil negar essa versão pela simples constatação de que uma pessoa pode ter uma infinidade de propriedades, uma fortuna incalculável, e mesmo assim ser um tremendo vazio, ter uma expressividade humana nula, prejudicada, enfim, ser muito muito pobre de alma.

Em outras palavras, possuir bens é sinal de riqueza, mas isso não significa automaticamente que a pessoa seja rica. Assim penso eu, claro, a despeito de dicionários e wikipedias da vida e, também, de grande parte do imaginário social. Tô nem aí.

Bom, voltando à busca, ela começa prometendo diversão a valer, pois já parte de um paradoxo, quase um choque: no topo da lista de nosso confiável Google quando se digita riqueza surge o último lugar em que poderíamos encontrá-la. Veja só:

Riqueza.com.br irá te fornecer todas as ferramentas para você extrair com inteligência cada gota de lucro de seu site. Se você recebe visitantes em seu site, você tem o direito de lucrar com isso. Mais do que um direito, é seu dever!

Écat. Coisa mais repugnante. Nem uma contrapropaganda ilustraria melhor a idéia aqui perseguida: de que nem todo lucro se transforma em riqueza. No próximos posts sobre o tema, prometo escolher exemplos melhores, mais saudáveis, ricos. 😉

dia do pai

Permito-me, como pai, singularizar esta data, tremendo 13 de agosto, e escapar do jogo mercadológico que se faz em torno. Se merecemos reconhecimento e comemoração, não creio que seja nos moldes incentivados pelo comércio, via o artifício dos presentes comprados.

Sempre disse aos meus filhos que preferia um desenho, texto ou escultura (já fizeram até com mandioca), uma geringonça qualquer que fosse de sua própria expressão e elaboração, por mais ‘pobre’ que pudesse parecer (e nunca parece porque nunca é).

Não que eu rejeite camisetas, livros, cedês ou algo no estilo que me chegue com carinho, mas porque essas coisas, no final, induzem à uma saída fácil (fora o desembolso financeiro e a camelada) e a uma certa preguiça de elaborar o que se sente, que pra mim é onde a coisa mais pega.

celulaEnfim, blablabá. Esse post foi para contar como começou meu dia: minha filha menor falando que amanhã tem prova de ciências e que gostaria que eu a ajudasse a estudar, depois do almoço. O assunto da prova é células, a dificuldade está em compreender as organelas, já ouviu falar?

“Bem, eu respondi, o que posso é aprender com você, pesquisarmos juntos, pois quando tive isso na escola – faz tempo – sabia-se muito menos e ‘ensinava-se’ de outro modo, resumo: se alguém me ensinou, já esqueci”.

E taí, para quem quiser saber mais sobre organelas. Sobre saber como ser pai, é esse dia a dia que vale mais do que qualquer comemoração, que nos ensina. Interessantes, as organelas.