Sou de uma raça em extinção : de homens e mulheres que nasceram quando em órbita da Terra havia somente um satélite – que era natural e tocado apenas pelos poetas e enamorados em geral.
Quase 50 anos depois, o céu acima do céu está repleto de artefatos metálicos rodando sobre nossas cabeças, fazendo uma diferença danada cá embaixo. A contabilidade é imprecisa, pois há muitos espiões que naturalmente não entram nas contas. Fala-se, entretanto, que já foram lançados ao espaço mais de dez mil geringonças, com formatos e funções bem diversos, como sondas exploratórias, telescópios apontados para o infinito ou para a terra (os espiões), e satélites mais comuns destinados à comunicação, meteorologia e pesquisa científica.
Um dos lados tristes da história é que o espaço, antes pura poesia, transformou-se em ocupação militar: estima-se que 75% dos satélites artificais servem funções desse tipo. Outra tristeza, de consequências difíceis de imaginar, é a produção do lixo espacial, formado por restos de foguetes lançadores e partes de satélites obsoletos; alguns, inclusive, durante um bom tempo, utilizaram combustível nuclear.
No céu do céu do Brasil existem uns 40 satélites, sendo que apenas meia dúzia deles a serviço do país. Para quem não sabe, boa parte de nosso território (as melhores partes) vem sendo comprada por estrangeiros – os ‘donos do mundo’ – que utilizam satélites para identificar com precisão onde vale a pena colocar seu dinheirinho sem sair de casa.
Problemas políticos, econômicos e ecológicos à parte, os satélites artificiais me fascinam desde pequeno. Ainda mais agora que é possível vê-los a olho nu (e não é porque minha visão melhorou, ao contrário, foi porque eles estão cada vez maiores, mais brilhantes, refletindo melhor a luz do sol).
A estação espacial internacional, por exemplo e por acaso, já vi duas vezes. Dá até para prever quando e onde ela estará visível, sem um binóculo sequer. Isso aí : que venha o progresso com suas benesses e encrencas.