o abrigo

“Não existe homem primitivo,
há unicamente meios primitivos”
Le Corbusier

cabana primitivaCabana  Primitiva no traço de Oscar Niemeyer.  Na junção de dois ramos de árvores nasce o espaço interior e a arquitetura de um modo direto e simples.

A idéia da primeira casa, arquétipo e origem, está presente no pensamento dos arquitetos modernos tanto como no dos tratadistas e teóricos da arquitetura de todos os tempos. Vitruvio foi o primeiro a procurar a essência da casa, situando no descobrimento do fogo a origem da sociedade humana e com ela a origem da atividade construtora do homem. Escreve em De architectura libre decem: “com o fogo surgiram entre os homens reuniões, assembléias e a vida em comum, que cada vez ficaram mais concorridas num mesmo lugar e assim, de um modo diferente dos outros animais, os homens receberam da Natureza o privilégio de andar erguidos e não inclinados e a atitude de fazer com grande facilidade, com suas mãos e órgãos de seu corpo, tudo aquilo que se propunham”.

Para Vitruvio a cabana primitiva e o fogo revelam-se inseparáveis. Elemento protoarquitetônico, é a partir do fogo que a arquitetura nasce como mito, rito e consciência. “O sol e o fogo, criados para o fomento natural, fazem mais segura a vida”.

Lembrando que a palavra lar é uma corruptela de lareira.

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Outros pensamentos sobre as primeiras moradias e os primeiros moradores:

Para Viollet-Le-Duc (1814-1879), houve um tempo muito distante em que o homem andava errante sobre a face da terra, com medo dos fenômenos naturais e das feras perigosas que dividiam o mesmo território. Numa forma lenta e dolorosa foi superando as etapas difíceis.

“A chuva descarregada das nuvens densas bate implacavelmente nas rochas, inunda a terra e aviva os verdes das árvores. Um grupo de homens pálidos, desvalidos e temerosos apertam-se ao redor de uma árvore qualquer, procurando abrigo, retira em seguida os ramos inferiores, esforçando-se por fixá-los ao solo com terra. Algo foi alcançado, porém a chuva castiga o mísero reparo, irrompe através da folhagem e inspira ao mais robusto desses homens a idéia de construir um refúgio mais seguro contra a violência do temporal. Eis aqui o primeiro passo; para atenuar tal desamparo, um homem elege duas árvores jovens e próximas, trepa numa delas e auxiliado por um ramo terminado em forquilha atrai o segundo tronco e o liga fortemente ao primeiro mediante uma atadura de juncos. A família contempla o processo maravilhada e após a indicação do homem pré-histórico, o grupo, armado de estacas, corre em busca de troncos mais finos, que sob a direção do acidental arquiteto são colocadas em torno do abrigo, formando um círculo na base e unindo suas extremidades superiores, unidas às árvores guias.Os interstícios serão preenchidos com uma trama de juncos, ramos e grandes folhas, sendo recobertas com barro todo o conjunto.A única abertura que possui a cabana estará na parte oposta ao vento dominante e o piso será organizado com ramos secos, juncos e barro amassado. Com o término do dia concluiu-se também a construção da cabana, é uma humilde conquista da indústria humana”.

Fonte: Casa e lar. A essência da arquitetura.

o pai das histórias

Lá no meio do livro Se um Viajante…, Italo Calvino introduz o “Pai das Histórias”, um índio de idade imemorial, que se supõe residir numa cidade perdida da América do Sul, encarapitada na Cordilheira dos Andes ou nas florestas do Orinoco. Cego e analfabeto, ele narra ininterruptamente histórias que ocorrem em terras e épocas que nunca conheceu.

crocodiloO fenômeno atraiu ao local expedições de antropólogos e parapsicólogos: apurou-se que muitos dos romances publicados por autores famosos haviam sido narrados, palavra por palavra, pela voz catarrosa do “Pai das Histórias”, vários anos antes de terem sido publicadas.

Segundo alguns, o velho índio seria a fonte universal da matéria narrativa, o magma primordial de que se originam as manifestações individuais de cada escritor; segundo outros, o velho seria um vidente que, sob o efeito de cogumelos alucinógenos, consegue comunicar-se com o mundo interior dos mais fortes temperamentos visionários e captar-lhes as ondas psíquicas.

Se um dia eu quiser inverter a pesquisa sobre Narrativas de Origem para Origem das Narrativas, já sei onde procurar.

a estética da informação

O volume alucinante de informação produzida no dia a dia (do qual retemos e manejamos apenas uma parte) torna essencial a pesquisa de novas formas de organizar e apresentar dados complexos de maneira simples e inteligível. Dessa necessidade vão brotando novas linguagens, novos formatos, novas filosofias.

Para quem trabalha na área, ou mesmo para contadores de histórias que desejam explorar os novos meios de comunicação, o blog information aesthetics, do professor da Universidade de Sidney, Andrew Vande Moere, é uma indispensável fonte de conhecimento e inspiração.

complexification

Complexification é outro site que também serve aos mesmos propósitos.

doce de pimenta

Para uma doce pimenta nascida no ano em que este video foi gravado.

docepimenta.png

Doce de Pimenta

Cada um vive como pode
E eu não nasci pra sofrer
Cara feia pra mim é fome
E eu não faço manha pra comer

A vida é como uma escola
E a morte é o vestibular
No inferno eu entro sem cola
Mas o céu eu vou ter que descolar

Mas quando alguém precisa de um carinho meu
Não há nada que me prenda
Mas se eu sentir que um bicho me mordeu
Sou mais ardida que pimenta!

No fundo eu sou otimista
Mas eu sempre penso o pior
Me cansa essa vida de artista
Mas cada vez o prazer é maior

Letra e Música: Rita Lee e Roberto de Carvalho
Cantam: Rita Lee e Elis Regina

a onda e a barca

Vem aí o documentário que inaugura um novo modo de fazer campanha política em tempos globalizados: An inconvenient truthUma verdade inconveniente.

verdadeconveniente.jpg

Dífícil imaginar a diferença do mundo hoje se Al Gore tivesse ocupado o lugar que ficou com Bush. Improvável que ele detivesse furacões, quando muito não os teria piorado. Guardadas as devidas proporções, esta comparação me levou a fazer outra, entre Lula e Alckmin. Partindo do pressuposto de que nenhum deles me convence, a quem prefiro fazer oposição?

Há sim distinções profundas entre os candidatos brasileiros, não só tomados parte a parte, como também contextualizados: o PSDB dominando São Paulo, Minas e boa parte do Congresso, tá de bom tamanho pra fazer oposição. Se Alckmim ganhasse, o governo ficaria insuportável, asfixiaria a já rala atmosfera política. Não sei se as pesquisas que colocam Lula 20 pontos à frente indicam uma intuição popular nesta direção ou outra coisa qualquer, mas estou nessa: dos males o menor, voto em Lula.

Agora, saindo da questão doméstica e voltando ao mundo maior, vale a pena ver o trailer, o site, comentários e principalmente o filme quando entrar em cartaz no mês que vem. Gostemos ou não, estamos na mesma barca e é preciso escolher o lado em que colocamos o peso do corpo (e das idéias) para tentar redirecioná-la.

Mantendo, claro, o espírito crítico de quem vê propaganda política bem produzida. Como lembra o influente ambientalista Bjørn Lomborg, Al Gore nos assusta com suas ondas de 6 metros invadindo os continentes, enquanto cientistas ligados às Nações Unidas dizem que a elevação do nível do mar atingirá 30 a 50 centímetros no próximo século.

cultura participativa

talita rocha - o povoPra não engrossar o coro das lamentações com o resultado das urnas, preferi aprender um pouco mais sobre Cultura Participativa. Encontrei uma entrevista com o educador espanhol César Munhoz, que já trabalhou por São Paulo anos atrás e agora assessora a prefeitura de Fortaleza no projeto Orçamento Participativo Criança.
Aqui estão alguns trechos:

  • Eu creio que a vida cotidiana é onde o ser humano se objetiva, se conhece, torna-se consciente de sua capacidade. A minha vida, a sua, a de todos os seres humanos também passa, fundamentalmente, por momentos triviais e latentes do cotidiano. Também passa por momentos de maior paixão, de uma grande viagem, mas, normalmente, a gente não vive diariamente uma grande paixão, uma grande viagem. O problema é que a cultura dominante vende o conceito de trivial como um momento fraco. Quando se diz uma bobagem, o discurso usual diz “não fale trivialidades!” O trivial é conhecido como algo não válido, não útil, mas a pedagogia do trivial é essencial.
  • Sobretudo no período da infância, as mentiras são realmente muito graves em seu cotidiano. A própria palavra infância quer dizer, em latim, in falere, aquele que não fala. Mas é evidente que elas (as crianças) falam e falam bem. No entanto, elas não têm plataformas para falar.
  • Outra mentira, em nível de infância, é a palavra aluno. Aluno quer dizer “aquele que não tem luz”. Aquele que tem a luz é o professor. Outra mentira gravíssima: dizer que a criança, a adolescência, a juventude do Brasil, de Fortaleza, é o futuro. Mentira. Nada é o futuro se já não é antes o presente.
  • A palavra adolescência é o que adolesce (em espanhol, cair doente), o que lhe falta. A juventude e a infância são momentos de transição. Isto não é mentira. Isto é certo. Acontece que todos nós estamos em transição.

no princípio era o amor

kristeva amor

O livro tem mais de vinte anos e está fora de catálogo na editora que o publicou no Brasil, além de não constar em outras listagens relevantes. Clássico da psicanálise, serve tanto às minhas pesquisas correntes sobre narrativas de origem, como também, para desfechos. Canto de fênix.

No Princípio era o Amor, belíssimo livro da filósofa, linguista, semióloga, psicanalista, professora e escritora feminista Julia Kristeva :

“Seres falantes, sempre já potencialmente falantes, somos desde sempre igualmente clivados, separados da natureza. Esse desdobramento deixa em nós a marca de processos semióticos pré ou translingüísticos, que são nossa única via de acesso à memória da espécie ou aos mapas neurônicos bioenergéticos.

Estes processos semióticos (inscrições arcaicas dos liames entre nossas zonas erógenas e as do outro, enquanto marcas sonoras, visuais, olfativas, rítmicas) constituem diacronicamente um pré-sujeito (o infans). Sincronicamente, eles figuram a angústia catastrófica (a “paixão”) da psicose melancólica. Eles marcam com sua insistência nossa capacidade de percepção no fundo frágil, e nos povoam de esquecimentos, vertigens, fantasmas.

Somos sujeitos permanentes de uma palavra que nos possui, sem dúvida. Mas sujeitos em processo, em perda incessante de nossa identidade, desestabilizados pelas flutuações dessa mesma relação ao outro, cuja homeostase nos mantém entretanto unificados.

Ao postular esse eclipse da subjetividade nos primórdios de nossa vida, ao ouvir um hiato na subjetividade nos momentos intensos de nossas paixões, o psicanalista não ‘biologiza a essência do homem’, como temia Heidegger.

Ele dota-se, pelo contrário, de uma confiança exorbitante no poder do elo transferencial e da palavra interpretativa, sabedor por experiência de que eles são capazes, uma vez reconhecidos e chamados o eclipse e o hiato do sujeito, de restabelecer sua unidade provisória. Para uma nova entrada em processo, o processo vivo de nossas paixões.”

recusa à pobreza

O II Seminário *Novos Indicadores de Riqueza*, na PUC-SP, centrou-se em análises críticas sobre a utilização do PIB como medidor de riqueza das nações, não faltando exemplos de inadequação deste índice.

PIB mede produção, não importa do quê: guerras elevam o PIB movimentando a indústria bélica; já o trabalho dos 250 mil voluntários da Pastoral da Terra, que melhora a saúde de muita gente, abaixa o PIB, ao economizar gastos em remédios e tratamentos médicos em geral. Supra-sumo da incoerência é tomar os números daí resultantes como riqueza.

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O professor Jean Gadrey, um dos franceses que participavam da video-conferência saiu direto para as atividades da Jornada de Recusa à Pobreza, realizada na França e em outros países.

No Brasil, o destaque ficou com a ONG Natal Voluntários, do Rio Grande do Norte, que chamou a participação de internautas para elaborar sugestões de políticas públicas de combate à pobreza.

Apenas no último fim de semana prolongado, foram enviadas 15 mil sugestões. O material será organizado e apresentado ao próximo presidente em primeiro de janeiro, dia da posse.

até onde?

Gigantismo de empresas, ao contrário do que elas querem que acreditemos, é sinal de perigo para a vida social, econômica e ambiental de povos e nações, em especial pequenas comunidades. Sou partidário do “small is beautiful” por razões simples:

  • quaisquer mudanças ou adaptações necessárias são muito mais complicadas de efetuar nas mega-corporações; por isso, em geral, elas ‘adaptam’ os outros às suas necessidades (empregados, clientes, países);
  • quando um gigante cai (já temos dezenas de exemplos), esmaga legal os anões que lhe dão sustentação (empregados, clientes, países);

Isso aí para dizer que apesar de admirar a fábrica de inovações que é o Google, tanta concentração de informação só pode nos deixar com a orelha em pé. Alguns amigos estão até deixando de usar as ferramentas Google, por melhores que elas sejam.

É o famoso efeito epa opa.

a paz pela economia

yunusPessoal que trabalha e acredita em Economia Solidária tem uma questão interessante sobre a escolha do economista e banqueiro Mohamed Yunus como ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

E a pergunta vem com um sorriso maroto: se o campo em que Yunus inovou foi o da economia, porque não recebeu o prêmio nesta categoria?

A resposta é tão óbvia que só merece mesmo risos como resposta. O que ele fez precisa ser vendido e incutido no grande público mais como caridade e voluntarismo (o que não deixa de ser verdade) do que como outra – e possível – abordagem para os negócios bancários. Isso colocaria os demais bancos quase na obrigação de seguir o mesmo caminho. Seria exigir demais desse mundo frio de quem só maneja dinheiro.

Segue abaixo um trecho de mensagem de Vicente Aguiar, da Cooperativa de Tecnologias Livres , que levantou a lebre]

Na verdade, Mohamed Yunus , além de “banqueiro” e economista, é um
humanista defensor da liberdade e emancipação humana por meio das
Finanças Solidárias.

Com a recusa dos bancos em emprestar dinheiro para essas pessoas, sob o argumento de que faltavam garantias de pagamento, Yunus fundou um banco em 1976, primeiramente na aldeia de Jobra na Índia, tendo como base um sistema de crédito popular libertador que viria a ser, mais tarde, o Grameen Bank – que se pode aproximadamente traduzir por “Banco da Aldeia”.

Este sistema fundamenta-se em dois princípios: em primeiro lugar, substitui-se a desconfiança bancária típica (avalistas, contratos com letras pequenas, fiadores, garantias…) por confiança pura e simples. Em segundo lugar, ao fato de que a pressão social de um grupo de co-avalistas é mais eficaz que qualquer formalidade jurídica.

A reação das autoridades bengalesas ao sistema de Yunus (quando ele tornou‑se visível) foi radical: “Não se pode emprestar dinheiro para pobres”, disseram os burocratas. Vencendo toda pressão do sistema de crédito proprietário, Yunus insistiu apresentando os fatos: a taxa de inadimplência do sistema (2%) do Banco da Aldeia era mais baixa do que a de qualquer outro banco em Bangladesh.

Desta forma, o Banco foi formalizado e passou a ter em dezembro de 2001 cerca de 13 mil funcionários em 1.175 agências e atuava em 40 mil aldeias. Até o final de 2001, concedeu mais de U$ 3,5 bilhões de empréstimos, financiou a aquisição de 546 mil casas próprias e naquele ano contava 2,4 milhões de clientes (94,8% mulheres).

– Mais informações no livro O Banqueiro do Pobres.

democratização da comunicação

A diversidade do país e o interesse dos cidadãos brasileiros não estão refletidos na mídia nacional. É para travar esse debate que um coletivo de organizações, redes e fóruns, espalhados pelas diversas regiões brasileiras, organizou a 4ª Semana Nacional pela Democratização da Comunicação.

Debates, mesas de diálogo, apresentações culturais vão mostrar à sociedade que a mídia é dela, que a informação é um bem público e a comunicação é um direito. Saiba mais sobre a 4ª Semana Nacional pela Democratização da Comunicação na Ciranda.

a interminável busca

cedest_ppt.png

A imagem acima é de uma apresentação em ppt feita por Gilberto Câmara, do Centro de Estudos de Desigualdades Socio-Territoriais – CEDEST, projeto que tem os seguintes objetivos:

  • Investigar as desigualdades socioterritoriais através de análise espacial para construir indicadores de diagnóstico e predição em políticas sociais.
  • Estabelecer um diálogo permanente entre análise sociológica e técnicas matemático-computacionais, para uma crítica substantiva e subjetiva dos procedimentos analíticos.

Em outras palavras, eles desenvolvem modelos muito mais complexos do que os atuais para coleta e análise de dados sociais. Na próxima terça-feira, dia 17/10, das 9 às 13 horas, na PUC-SP, haverá um seminário com videoconferência Brasil-França sobre o tema Novos Conceitos de Riqueza, organizada pelo CEDEST. O debate servirá para lançar no Brasil os livros de Patrick Viveret e Jean Gadrey, ambos abordando novas formas de contabilizar os esforços econômicos e sociais.

A informação veio do professor Ladislaw Dowbor, nesses termos, com os quais concordo plenamente: “Ninguém aguenta mais as simplificações do chamado PIB, temos de contabilizar avanços reais em termos de qualidade de vida, e não apenas a soma da produção comercial. Vamos fazer uma video-conferência com os professores na França sobre o tema, aproveitando o lançamento dos seus livros no Brasil. Participam aqui Aldaiza Sposatti, Ladislau Dowbor, José Eli da Veiga. O evento é aberto”.

II  SEMINÁRIO NOVOS INDICADORES DE RIQUEZA
17 de outubro de 2006, das 9:00 horas às 13:00 horas.
Anfiteatro do TUCA – PUC/SP; rua Monte Alegre, 984,
4º andar, Perdizes, São Paulo, SP.

gostei do título

porcos_ceu.jpg

A história é sobre Verônica, uma garota que tem TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Ela tem mania de tudo, de limpeza, de organização e de colecionar curiosidades. Uma mistura de Amelie Poulain, Lola (Corra Lola, corra) e de garotas “más” que sempre povoaram as festas da cidade baixa e da minha imaginação. Verônica que vive só, em cima de um bar (Beco203), cansada dessa vida decide por fim em tudo tomando belos comprimidos verdes. Esperando que o efeito venha, ela descobre em um jornal de bairro que mais tarde vai passar um programa na televisão sobre curiosidades. Neste momento acontece a virada do filme, onde a personagem precisa correr se quiser voltar atrás. – Everson Klein (roteirista).

Ainda não vi o filme, o roteiro parece ir do trágico-mórbido ao eutrapélico, mas ainda preciso confirmar se são estas palavras que quero dizer. Bóra assistir.

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E vem aí 420 filmes em 14 dias da 30ª Mostra de Cinema de São Paulo.

30 mostra de cinema de sampa

Escolher os filmes  é um caso típico de transdisciplinar a dispersão. 😉

balada do saci

O dia 31 de outubro não é mais o mesmo… Agora o Saci e os seus amigos festejam junto com as bruxas. Até com mais direito, já que o dia deles foi instituído em São Paulo e tramita no Congresso pra virar Dia Nacional.

Para celebrar esse personagem e seus amigos Boitatá, Curupira, Caipora, Boto, Mula sem cabeça e outros, é só aparecer na Balada do Saci & Seus Amigos que acontecerá dia 21 de outubro, na Vila Madalena, Sampa.

saci-sosaci.jpgNa festa será apresentado o documentário “Somos todos Sacys” de Rudá Andrade, haverá um bate papo com Mário Cândido e Mouzar Benedito, da Sociedade de Observadores de Saci – SOSACI, além de muita dança com o Grupo de Maracatu Pa-pa-dá e música com os Amídalas Cantantes e DJs Caião e Beto Várias.

O evento – que irá encerrar a Semana de Democratização da Comunicação em Sampa – é organizado pela Revista Viração e pelo Instituto Jovem, entidades que também pulam em uma perna só.

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Balada do Saci & Seus Amigos.
Dia 21/10 às 21hs no Instituto Jovem
Rua Cardeal Arcoverde 1838 (altura da Mourato Coelho)
Entrada: 5 reais. (a dica veio do extra. a imagem, do bica.)

qual democracia?

Nestes tempos bicudos, vale perguntar se existe país no mundo praticando uma real democracia. O que mais se vê são democracias de fachada defendidas por democratas de fachada, que usam os poderes outorgados pelos povos para imporem seus interesses grupais.

No Brasil, particularmente, temos de lado a lado e de cima a baixo no espectro político, verdadeiros cleptocratas – ativos e passivos. Mas como só reclamar nada adianta, aí vai uma visão sobre democracia na qual acredito e me comprometo a batalhar. São trechos do último capítulo do livro Sete Saberes, de Edgar Morin, no qual ele examina A Ética do Gênero Humano:

A democracia fundamenta-se no controle da máquina do poder pelos controlados e, desse modo, reduz a servidão. A democracia é mais do que um regime político; é a regeneração contínua de uma cadeia complexa e retroativa: os cidadãos produzem a democracia que produz cidadãos.

A experiência do totalitarismo enfatizou o caráter-chave da democracia: seu elo vital com a diversidade. O respeito à diversidade significa que a democracia não pode ser identificada com a ditadura da maioria sobre as minorias; deve comportar o direito das minorias e dos contestadores à existência e à expressão, e deve permitir a expressão das idéias heréticas e desviantes.

Do mesmo modo que é preciso proteger a diversidade das espécies para salvaguardar a biosfera, é preciso proteger a diversidade de idéias e opiniões, bem como a diversidade de fontes de informação e de meios de informação, para salvaguardar a vida democrática.

As democracias são frágeis, vivem conflitos, e estes podem fazê-la submergir. A democracia ainda não está generalizada em todo planeta, que tanto comporta ditaduras e resíduos de totalitarismo do século XX, quanto germes de novos totalitarismos. Continuará ameaçada no século XXI. Além disso, as democracias existentes não estão concluídas, mas incompletas ou inacabadas.

As empresas permanecem sistemas autoritários hierárquicos, parcialmente democratizados na base. É certo que há limites à democratização em organizações cuja eficácia é fundada na obediência, como no exército. Mas podemo-nos questionar se, como algumas empresas o descobrem, é possível adquirir outra eficácia por meio do apelo para a iniciativa e para a responsabilidade dos indivíduos ou grupos. De todo modo, nossas democracias comportam carências e lacunas.

Não existem apenas democracias inacabadas. Existem processos de regressão democrática que tendem a posicionar os indivíduos à margem das grandes decisões políticas (com pretexto de que estas são muito complicadas de serem tomadas e devem ser decididas por “expertos” tecnocratas), a atrofiar competências, a ameaçar a diversidade e a degradar o civismo.

Do mesmo modo, ocorre a despolitização da política, que se autodissolve na administração, na técnica (especialização), na economia, no pensamento quantificante (sondagens, estatísticas).

A política fragmentada perde a compreensão da vida, dos sofrimentos, dos desamparos, das solidões, das necessidades não quantificáveis. Tudo isso contribui para a gigantesca regressão democrática, com os cidadãos apartados dos problemas fundamentais das cidades.

Naturalmente, o processo é lento, sorte se for possível.

horário cultural gratuito

Espaço reservado para os amigos do Clube do Dendê.

Sexta-feira tem tango-batuque no Espaço Miscelânea Cultural!

O Club do Dendê é o clube do samba-sem-chuchu que apresenta o famigerado partido alto, desde a raiz até suas flores mais belas. Tem samba-canção e samba-enredo também; marcha, velha-guarda e até um pagode passa por aqui às vezes, vacilando. Só não tem chuchu.

Pra quem se espreme de medo do príncipe da Opus-Dei chegar ao poder e o Vaticano virar a capital do Brasil, venha celebrar a difamação e o escárnio próprio dos fandangos mamelucos realizando um desfile fanfarrado de sincope popular, escancarando nossos hábitos desmedidos e sinuosos de quem inventa a vida.

Pra você que cansou da cantilena mal contada dos antigos vermelhos, que agora estão roxos pra permanecer no poder, pra você que não agüenta mais o esbugalhado da Serra, ou o Maluf candidato a síndico de asilo ou ainda o Clodovil estrela na TV Câmara, aprochegue-se…

Venha celebrar uma xiba de violão baiano. Marchemos juntos ao batuque da resistência de nossa cultura aversa ao espetáculo, pedestre em suas convicções e enraizada nos lundus de alma negra.

Às sextas sejamos todos artistas. Não precisamos de claquete, de contra-regra ou de âncora. Preferimos a farofa, a vela e algum vintém. Quem quiser chegar de chapéu, lenço e tamanco também vem. Cabe todo mundo desafetado da indústria do espetáculo e ritmado pelos batuques de uma cultura transnacional de quem trabalha.

O povo perde o governo, mas não perde a piada…

tiao carvalho
Nesta sexta, 06/10, a festa estará mais completa com a presença do querido Tião Carvalho, grande multiplicador de cultura popular pelas esquinas de cá.

O Espaço Miscelânea Cultural fica em Pinheiros, na rua Álvaro Anes, 91. É bem perto da FNAC da rua Pedroso de Moraes, sabe? Couvert: 3 r$. Entrada: 3 r$

Tá. Não é gratuito mas é bem baratinho. Pensa que só os políticos podem mentir?

fuvest inova

Gostei de saber que os exames da primeira fase da FUVEST, este ano, não serão mais divididos por matérias. Junto com as questões de caráter interdisciplinar, inseridas já em anos anteriores, a iniciativa revela um grau de amadurecimento e avanço na direção do pensamento complexo.

Aos vestibulandos e cursinhos restará desenvolver novas estratégias para enfrentar as provas, mas isto, se encarado com tranquilidade, não será grande problema, pois já não estamos mais na época em que o escritor Howard Phillips Lovecraft (1890-1937) externou essa preocupação:

h p lovecraft“Uma das maiores misericórdias do mundo, penso eu, é a incapacidade da mente humana correlacionar todo o seu conteúdo. Vivemos numa plácida ilha de ignorância em meio a negros mares de infinitude, e não fomos designados a ir longe. As ciências, cada qual avançando em sua própria direção, até agora nos causaram pouco dano, mas há de chegar um dia onde a junção das peças soltas de nosso conhecimento abrirá visões tão terríveis da realidade, e de nossa assustadora posição nela, que só nos restará enlouquecer perante a revelação ou fugir da luz fatal para a paz e a segurança de uma nova Idade das Trevas.”