“Não existe homem primitivo,
há unicamente meios primitivos”
Le Corbusier
Cabana Primitiva no traço de Oscar Niemeyer. Na junção de dois ramos de árvores nasce o espaço interior e a arquitetura de um modo direto e simples.
A idéia da primeira casa, arquétipo e origem, está presente no pensamento dos arquitetos modernos tanto como no dos tratadistas e teóricos da arquitetura de todos os tempos. Vitruvio foi o primeiro a procurar a essência da casa, situando no descobrimento do fogo a origem da sociedade humana e com ela a origem da atividade construtora do homem. Escreve em De architectura libre decem: “com o fogo surgiram entre os homens reuniões, assembléias e a vida em comum, que cada vez ficaram mais concorridas num mesmo lugar e assim, de um modo diferente dos outros animais, os homens receberam da Natureza o privilégio de andar erguidos e não inclinados e a atitude de fazer com grande facilidade, com suas mãos e órgãos de seu corpo, tudo aquilo que se propunham”.
Para Vitruvio a cabana primitiva e o fogo revelam-se inseparáveis. Elemento protoarquitetônico, é a partir do fogo que a arquitetura nasce como mito, rito e consciência. “O sol e o fogo, criados para o fomento natural, fazem mais segura a vida”.
Lembrando que a palavra lar é uma corruptela de lareira.
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Outros pensamentos sobre as primeiras moradias e os primeiros moradores:
Para Viollet-Le-Duc (1814-1879), houve um tempo muito distante em que o homem andava errante sobre a face da terra, com medo dos fenômenos naturais e das feras perigosas que dividiam o mesmo território. Numa forma lenta e dolorosa foi superando as etapas difíceis.
“A chuva descarregada das nuvens densas bate implacavelmente nas rochas, inunda a terra e aviva os verdes das árvores. Um grupo de homens pálidos, desvalidos e temerosos apertam-se ao redor de uma árvore qualquer, procurando abrigo, retira em seguida os ramos inferiores, esforçando-se por fixá-los ao solo com terra. Algo foi alcançado, porém a chuva castiga o mísero reparo, irrompe através da folhagem e inspira ao mais robusto desses homens a idéia de construir um refúgio mais seguro contra a violência do temporal. Eis aqui o primeiro passo; para atenuar tal desamparo, um homem elege duas árvores jovens e próximas, trepa numa delas e auxiliado por um ramo terminado em forquilha atrai o segundo tronco e o liga fortemente ao primeiro mediante uma atadura de juncos. A família contempla o processo maravilhada e após a indicação do homem pré-histórico, o grupo, armado de estacas, corre em busca de troncos mais finos, que sob a direção do acidental arquiteto são colocadas em torno do abrigo, formando um círculo na base e unindo suas extremidades superiores, unidas às árvores guias.Os interstícios serão preenchidos com uma trama de juncos, ramos e grandes folhas, sendo recobertas com barro todo o conjunto.A única abertura que possui a cabana estará na parte oposta ao vento dominante e o piso será organizado com ramos secos, juncos e barro amassado. Com o término do dia concluiu-se também a construção da cabana, é uma humilde conquista da indústria humana”.