o mito revisitado

O mito da imparcialidade jornalística na visão de Robert Fisk, prestigiado colunista do The Independent:

“Jornalistas devem estar ao lado dos que mais sofrem. Se nos mandassem cobrir o tráfico de escravos no século 18, não deveríamos dar o mesmo tratamento às opiniões do escravo e às do capitão do navio mercador de escravos. Se nos mandassem cobrir a libertação, num campo de concentração nazista, não deveríamos dar o mesmo tratamento às vítimas e ao porta-voz da SS”.


teia de dados

A BusinessWeek publicou, pouco tempo atrás, uma curta entrevista com Tim Berners-Lee, diretor do W3C (World Wide Web Consortium), que responde pela padronização técnica da internet. Com a entrevista uma série de slides exemplos de aplicações de web semântica na ciência e nos negócios (visão mais panoramica que profunda), e um guia prático para quem quer investir ou se aventurar na área. Perguntado se o nome web semântica não fora um equívoco que complicou ainda mais algo que já não era simples, Berners-Lee respondeu:

“I don’t think it’s a very good name but we’re stuck with it now. The word semantics is used by different groups to mean different things. But now people understand that the Semantic Web is the Data Web. I think we could have called it the Data Web“.

a memória do mundo

Conto de Italo Calvino escrito 30 anos atrás, parece conversa entre diretores do Google:

backspace.com“O que será o gênero humano no momento de sua extinção? Uma certa quantidade de informações sobre si mesmo e sobre o mundo, uma quantidade finita, dado que não poderá mais se renovar e aumentar.

Durante algum tempo o universo teve uma oportunidade especial de colher e elaborar informações, e de criá-las, de extrair informações dali onde não haveria nada a informar sobre nada: isso foi a vida na Terra, e sobretudo o gênero humano, sua memória, suas invenções para comunicar e recordar.

A nossa organização garante que essa massa de informações não se disperse, independentemente do fato de ser ou não recebida por outros. Caberá ao diretor fazer com que, escrupulosamente, como se nunca tivesse existido tudo aquilo que acabaria atrapalhando ou pondo na sombra outras coisas mais essenciais, isto é, tudo aquilo que, em vez de aumentar a informação, criaria uma desordem e um ruído inúteis. O importante é o modelo geral formado pelo conjunto das informações, do qual poderão ser extraídas outras informações que não fornecemos e que talvez não tenhamos. Em suma, não dando certas informações damos mais do que daríamos dando-as.

O resultado final de nosso trabalho será um modelo em que tudo consta como informação, mesmo o que não é. Só então se poderá saber, de tudo o que foi, o que é que constava verdadeiramente, ou seja, o que é que existiu verdadeiramente, porque o resultado final de nossa documentação será ao mesmo tempo o que é, foi e será, e todo o resto não será nada.”

[ do livro Um General na Biblioteca ]

modelos de negócios

Não sei quanto tempo ainda os jornais viverão esse dilema abre conteúdo <-> fecha conteúdo. Agora que o Valor Online anuncia que vai fechar de novo boa parte das matérias, me dou conta de que nem sabia, como assinante da newsletter, que tinha acesso a tudo. Sou um leitor mal informado.

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Pô, achei super-simpático, personalizado mesmo, eles tentarem me chamar pelo %%nome%%. Valeu Valor.

é contra, eu apoio

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Apoiaria mesmo que fosse Semana de Contra Jornalismo ou Semana de Jornalismo do Contra. Não importa. Melhoria das condições de ensino é uma reivindicação de toda sociedade, pra sempre. Cursos faz-de-conta, que sumam!

Interessante é que os alunos que não aprenderam nada sobre jornalismo fazem uma rica denúncia da precariedade do curso: matérias que não têm professor, professores que abandonam as aulas, falta de equipamentos. O que leva a pensar: se eles não soubessem comunicar, teriam organizado o protesto?

A programação é bacanuda e se encerra na sexta-feira com o simbólico enterro do curso de jornalismo da ECA, cujo site não faz menor menção ao evento, razão a mais para apoiá-lo.

floresNesta também simbólica coroa de flores registro, porém, minha única discordância com os estudantes, que grifam em seu manifesto: Não deixaremos o curso de jornalismo da USP morrer! Ora pois, que então montassem uma UTI, um sanatório, não um enterro. O negócio de ressuscitar rola em outra área, não na escola.

Nos meus tempos de estudante (oficial) de comunicação, quase trinta anos atrás, eu adoraria simplesmente ter concluído o Curso de Comunicação com as matérias que eu mesmo escolhesse, mas fui obrigado a optar por uma das três áreas: jornalismo, propaganda ou relações públicas. Se na época eu já achava esses campos restritos, imagina hoje.

vale a pena ver de novo

  • Em homenagem ao acordo hoje assinado entre o atual presidente do Brasil (que só quer garantir mais uns anos no posto), o ministro das comunicações do Japão (que parece ter feito um bom negócio), e as emissoras de tevê (blablablá), repito esse post que, por sinal, é o campeão de audiência do blog. 😐

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gosta de fantoches?

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Esta charge utilizada na até aqui vitoriosa campanha contra a tecnologia Terminator – das sementes genocidas – poderia ser aplicada em várias outras situações.

Os fantoches dos meios de comunicação que servem tanto aos governos quanto aos grandes interesses financeiros são uma peste bem nutrida, difícil de ser combatida, mas não invencível. Principalmente quando se conta com o trabalho de ilustradores como Reymond Pagé e Eric Drooker.

dia nacional da imprensa

Nem sei se existem razões concretas para se comemorar essa data, mas fica aí o registro. No site da Associação Brasileira de Imprensa, por exemplo, nenhuma referência em destaque.

abi_tvdigitalAchei, porém, algo mais interessante que datas: o anúncio de mais um debate sobre Tevê Digital no próximo dia 5 de junho, promovido pela ABI. Quanto mais esse tema for debatido entre pessoas com conhecimento de causa e pessoas com causa mas sem conhecimento, melhor. Ainda há muito o que amadurecer se quisermos produzir uma comunicação democrática de verdade em nosso país.

A Mesa será presidida por Maurício Azêdo, presidente da ABI e mediada por Audálio Dantas, vice-presidente da casa. Terá como debatedores Gustavo Gindre, do Indecs, Sérgio Gomes da Silva, da Oboré, Evandro Guimarães, da Abert, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que trata do tema na Câmara, e o Ministro da Cultura, Gilberto Gil.

opção dos leitores por Veja atrasa o país

Na época em que cursei jornalismo, entre 1976-79, em Santos, O Pasquim era considerado baluarte da liberdade, e a revista Veja referência de jornalismo para o grande público, horizonte mágico que atrai a visão dos candidatos a repórter.

pasquim 78Era tempo de repressão, prisões, mortes, sumiços, chamadas no DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) para interrogatórios, avisos do tipo ‘estamos de olho’ ou conselhos cínicos assim: ‘vocês gostam de paz, nós também, então deixem os carneirinhos em paz’.

Por essas e outras, a auto-censura reinava. Se algum repórter ousasse escrever sobre a poluição em Cubatão era taxado de subversivo pelos próprios colegas de redação; e subversão lá, mesmo sem armas de fogo, tinha outro sentido e destino do que hoje em dia.

Compreensível. Qualquer fumaça em chaminés de fábricas era vista como sinal de progresso. Quanto mais, melhor. Falar ao contrário era uma insanidade, uma heresia. A causa ambiental apenas se esboçava, era novidade até entre os jornalistas.

O Pasquim afundou nos mares da ‘normalidade democrática’ e Veja prosperou, em número de assinantes e anunciantes, nos mares da ‘democracia mercadológica’. Editorialmente, porém, parou naquele tempo. Hoje atribui aos defensores do software livre a mesma pecha de atraso que a imprensa dos industriais e militares atribuia aos ‘ecologistas’ de outrora.

Não li nem vou ler a matéria da Veja intitulada Opção de Lula pelo software livre atrasa o país. Só de ouvir falar, lembrei dos blablablás que os Relações Públicas inventavam para justificar a fumaça das fábricas, as crianças sem cérebro e a calvície da Mata Atlântica. A história cuidou deles.

Ler a revista Veja, até para criticá-la, atrasa o país. Ela se vale da tática descrita por Carlos Imperial: “Falem bem ou mal, mas falem de mim”, portanto nem mais escrever sobre ela eu vou. Apenas deixo a frase que o historiador Jorge Caldeira utilizou em outro contexto, mas serve aqui:

A liberdade é um suplício para velhos prisioneiros

aparição

O recado de sub Marcos vale para ‘qualquer’ país:

submarcosLo que han conseguido los gobiernos, afirma el subcomandante Marcos, es la destabilización nacional en tiempos electorales.

.. ..

A entrevista concedida pelo mais conhecido e misterioso zapatista à Televisa, principal rede de tevê do México, vem sendo tratada como ‘evento de mídia’, pela própria mídia.

Parece mais uma forma de ‘orientar a atenção’ ao fato de que ele apareceu, portanto estamos numa democracia do que para registrar e refletir melhor sobre suas palavras.

Tranquilidade é sim uma boa, mas tem se mostrado uma faca de dois gumes. É da calma e desatenção do povo que políticos profissionais tiram a tranquilidade para fazerem o que fazem.

cara nova, mesma pegada

oi 10 anosO Observatório de Imprensa, um dos mais antigos serviços jornalísticos críticos da internet brasileira, mudou de cara. Aproveitou a comemoração de seu décimo aniversário, mês passado, para suavizar as linhas estética e funcional. Nota-se, porém, que a operação não foi radical, pois o olhar continua o mesmo.

Da presente edição, destaque para o texto de Mauro Malin abordando o velho problema das relações incestuosas entre Legislativo e Meios de Comunicação, apesar da proibição legal:

A Constituição Federal estabelece no artigo 54 que deputados e senadores não poderão, entre outras coisas, aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado em pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público. Nesse último caso enquadram-se as emissoras de rádio e televisão.

alento

“L’eau, si on sait l’entendre, si on en apprend la langue, ouvrira toute la connaissance des êtres et des choses.”
~ Le ru d’Ikoué – Yves Thériault

O escritor canadense Yves Thériault ficou célebre por suas histórias sobre esquimós, todas elas carregadas de enorme sensibilidade, respeito e ensinamentos sobre a vida simples daquele povo e sua relação com a natureza, isto é, a água.

A frase acima, de um de seus livros, significa mais ou menos o seguinte:
Se soubermos escutar a água, aprendermos sua língua,
isso nos abrirá todo o conhecimento dos seres e das coisas
“.

frriiiooMuito bom saber disso porque sempre tive a esquisita impressão de ficar melhor informado sobre o que acontece no mundo em apenas quinze minutos sentado nas rochas ou na areia observando o mar, ouvindo seu rumor, do que assistindo uma semana inteira de Jornal Nacional.

Capaz que exista algo de místico nisso, mas não posso afirmar porque, na prática, nunca assisti uma semana inteira de Jornal Nacional.

menos arte, mais política

Em sua quinta tentativa de ocupar o Palácio do Planalto, Lula terá uma significativa baixa no apoio espontâneo de artistas publicamente reconhecidos. No plano simbólico, ele perde uma parte da aura protetora, digamos, da capa estilizada e afetiva de sua blindagem.

mais arte, menos enganação

A corrosão da imagem se deve, sem dúvida, à exposição ao tempo. Lula, na prática, não coube no perfil de esperança que lhe foi desenhado pela propaganda. Desmancharam-se as fantasias (ou boa parte delas). Teremos, enfim, um candidato carne e osso, sujeito a erros.

Gosto tanto de ilusões quanto de desilusões. Se uma dá graça à vida, a outra tempera com sabor real. Estou até começando a curtir este ano eleitoral.

rede contra crimes

safernet brasilEm suas andanças pela internet, caso encontre textos, imagens, músicas, vídeos ou qualquer material que atente aos Direitos Humanos, você já pode denunciá-los à SaferNet Brasil.

São temas passíveis de denúncia:

Ou publique em seu site um dos banners do Acordo de Cooperação Técnica, Científica e Operacional celebrado entre a SaferNet Brasil e a Procuradoria da República do Estado de São Paulo em 29 de março de 2006, apontando para
http://www.denunciar.org.br .