Na época em que cursei jornalismo, entre 1976-79, em Santos, O Pasquim era considerado baluarte da liberdade, e a revista Veja referência de jornalismo para o grande público, horizonte mágico que atrai a visão dos candidatos a repórter.
Era tempo de repressão, prisões, mortes, sumiços, chamadas no DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) para interrogatórios, avisos do tipo ‘estamos de olho’ ou conselhos cínicos assim: ‘vocês gostam de paz, nós também, então deixem os carneirinhos em paz’.
Por essas e outras, a auto-censura reinava. Se algum repórter ousasse escrever sobre a poluição em Cubatão era taxado de subversivo pelos próprios colegas de redação; e subversão lá, mesmo sem armas de fogo, tinha outro sentido e destino do que hoje em dia.
Compreensível. Qualquer fumaça em chaminés de fábricas era vista como sinal de progresso. Quanto mais, melhor. Falar ao contrário era uma insanidade, uma heresia. A causa ambiental apenas se esboçava, era novidade até entre os jornalistas.
O Pasquim afundou nos mares da ‘normalidade democrática’ e Veja prosperou, em número de assinantes e anunciantes, nos mares da ‘democracia mercadológica’. Editorialmente, porém, parou naquele tempo. Hoje atribui aos defensores do software livre a mesma pecha de atraso que a imprensa dos industriais e militares atribuia aos ‘ecologistas’ de outrora.
Não li nem vou ler a matéria da Veja intitulada Opção de Lula pelo software livre atrasa o país. Só de ouvir falar, lembrei dos blablablás que os Relações Públicas inventavam para justificar a fumaça das fábricas, as crianças sem cérebro e a calvície da Mata Atlântica. A história cuidou deles.
Ler a revista Veja, até para criticá-la, atrasa o país. Ela se vale da tática descrita por Carlos Imperial: “Falem bem ou mal, mas falem de mim”, portanto nem mais escrever sobre ela eu vou. Apenas deixo a frase que o historiador Jorge Caldeira utilizou em outro contexto, mas serve aqui:
“A liberdade é um suplício para velhos prisioneiros”