cultura na veia

cartaz da teiaDe 6 a 9 de abril próximos, se liga na Teia, o evento cultural meio governo meio raízes que agitará a cidade de São Paulo.

No Ibirapuera serão montados 27 estandes e um circo para apresentações de artistas de todos os estados brasileiros e a Estação Digital para oficinas de metareciclagem. Em volta do Pavilhão, outros 30 praticáveis para pequenas apresentações, praças de convivência e palcos para música, dança e teatro.

Ainda Ibirapuera: o auditório do MAC (450 pessoas) receberá os seminários sobre Fronteiras Digitais e o auditório do MAM (200 lugares), as expressões artísticas dirigidas ao público infanto-juvenil. No SESC Vila Mariana ocorrerá o Seminário Cultura Viva e 4 salas de cinema (60 pessoas cada) foram criadas para encorporar o evento.

O convite é do Ministro da Cultura, Gilberto Gil: “Que acontece quando se solta uma mola comprimida, quando se liberta um pássaro, quando se abrem as comportas de uma represa? Veremos…

Quer pular, voar ou se afogar? Anote aí:
Teia – A Rede de Cultura do Brasil
De 6 a 9 de abril, das 10hs às 22hs

Abertura oficial dia 5 de abril às 19hs, somente para convidados e imprensa. Ora pois, isto ainda é Brasil.

pibi

Não sei porque tanta gente torce o nariz quando ouve falar blog, tag, web. Talvez ainda não lhes tenha caído a ficha da extensão dessas palavrinhas estranhas, quase mágicas.

Elas são muito mais fáceis, divertidas e concretas do que, por exemplo, ‘pib’, que está na ordem do dia. Todos os noticiários ressoam: PIB soma R$ 1,937 trilhão e Brasil torna-se 11ª maior economia do mundo. A maioria das pessoas fica, então, com aquela cara, sem saber se isso é bom ou ruim, mesmo depois de ouvir todas as explicações.

Uma corrida de números não me convence ser a melhor forma de medir as riquezas dos países, dos povos. Coisas relevantes ficam pelo caminho. Mais uma visão imposta de cima pra baixo: do poder econômico ao noticiário, do noticiário ao povo, e deste para o vazio. Quem sabe o que é pib? como se calcula?

Pois bem, pib é um exercício de metodologia científica com um pé na ficção. Vejamos se essa explicação da Folha esclarece:

O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor de toda a riqueza gerada no país.

O cálculo do PIB, no entanto, não é tão simples. Imagine que o IBGE queira calcular a riqueza gerada por um artesão. Ele cobra, por uma escultura de madeira, R$ 30. No entanto, não é esta a contribuição dele para o PIB.

Para fazer a escultura, ele usou madeira e tinta. Não é o artesão, no entanto, que produz esses produtos –ele teve que adquiri-los da indústria. O preço de R$ 30 traz embutido os custos para adquirir as matérias-primas para seu trabalho.

Assim, se a madeira e a tinta custaram R$ 20, a contribuição do artesão para o PIB foi de R$ 10, não de R$ 30. Os R$ 10 foram a riqueza gerada por ele ao transformar um pedaço de madeira e um pouco de tinta em uma escultura.

O IBGE precisa fazer esses cálculos para toda a cadeia produtiva brasileira. Ou seja, ele precisa excluir da produção total de cada setor as matérias-primas que ele adquiriu de outros setores.

Depois de fazer esses cálculos, o instituto soma a riqueza gerada por cada setor, chegando à contribuição de cada um para a geração de riqueza e, portanto, para o crescimento econômico.

pib_hj5

Nas contas do pib, um sorriso vale zero e se alguém me diz que alegria não é sinal de riqueza, eu dou risada. Uma coisa é ser imensurável, outra é não existir. Falta mesmo é achar um jeito de medir o PIBI (produto interno bacana e invisível).

[ a imagem, que nada tem a ver com nosso PIB, vem do Presse Illustrations Bureau ]

terrorismo de mercado

Em sua coluna de hoje, ao focar a troca de personagens no Ministério da Fazenda e as consequentes pressões sobre o novo ministro pelas forças de mercado, Elio Gaspari lembra que "o terrorismo de mercado é um instrumento eficaz de intimidação política. Em certos casos, rende também um dinheirinho fácil". Ele cita algumas dessas ações no passado recente:

Em 2002, a casa bancária americana Goldman Sachs criou o Lulômetro, uma elegante equação destinada a medir a relação entre o dólar e a falta de confiança em "nosso guia". O sábio Paulo Leme, um dos diretores do banco à época da gracinha, jamais imaginaria que o dólar-companheiro pudesse ficar na casa dos R$ 2,10. Também terrorismo a propagação, em 1994, da patranha segundo a qual Lula congelaria a poupança da patuléia (a malvadeza saiu da cabeça do doutor Gustavo Franco e foi divulgada pela assessoria de imprensa do PSDB).

Complicado apurar e punir crimes como esses, né?

aprender as cidades

fme2006“A Cidade Educadora, expressão que sugere naturalmente a idéia de uma grande escola a céu aberto, onde tudo – dos espaços aos modos de gestão – pode revelar sua vocação educativa, está no horizonte do FME-NI . Mas para constituí-la é imprescindível “uma base educacional que permita, provoque e determine a promoção e a efetivação da cidadania.”

economia budista

“Há universal concordância quanto ao trabalho humano ser uma fonte fundamental de riqueza. Ora, o economista moderno foi levado a reputar o trabalho ou ‘mão-de-obra’ como pouco mais que um mal necessário.”

“Sob o ponto de vista do empregador, é, de qualquer forma, uma parcela dos custos, a ser reduzida ao mínimo se não puder ser de todo eliminada, digamos, pela automação. Sob o ponto de vista do trabalhador, é uma ‘desutilidade’: trabalhar é sacrificar seu próprio lazer e conforto, e os salários são uma espécie de compensação pelo sacrifício. Daí ser o ideal, do ponto de vista do empregador, obter produção sem empregados, e do ponto de vista do empregado, rendimento sem emprego.”

Economia Budista, título do capítulo IV do livro ‘Small is Beautiful’, de E.F.Schumacher. Um exercício de imaginação assim explicado pelo autor:

“A economia é uma ciência derivada que aceita instruções do que eu denomino metaeconomia. Na medida em que as instruções são mudadas, assim também muda o conteúdo da economia. No texto a seguir exploraremos as leis econômicas e definições dos conceitos ‘econômico’ e ‘antieconômico’ que resultam quando é abandonada a base metaeconômica do materialismo e posto em seu lugar o ensinamento do budismo. A escolha do budismo para essa finalidade é puramente incidental; os ensinamentos do cristianismo, islamismo ou judaísmo poderiam ter sido utilizados da mesma maneira, assim como os de qualquer outra das grandes tradições do Oriente.”

Mais trechos desse capítulo você encontra aqui.

plexos

plexo solarVocê provavelmente já ouviu falar em plexo solar. Zona abaixo do pulmão, também chamada boca do estômago, alvo dos boxeadores, território das emoções. Lá onde o bicho pega.

O termo tem grande alcance por ser de uso médico, no trato com a anatomia, e místico, como um dos sete chakras. O que você provavelmente não suspeita é que temos perto de uma centena de plexos espalhados pelo corpo, das articulações dos pés às zonas periféricas do cérebro. Talvez por isso sejamos seres assim tão complexos, tão naturalmente enredados.

ouvir as cidades

seekersmallMapear os sons da cidade parece tarefa insana, mas se conduzida por estudiosos de ecologia acústica e arteiros vira um interessante experimento: NYSoundmap.

Músicos, engenheiros de som, arquitetos, filósofos e projetistas reúnem-se numa pesquisa transubjetiva, isto é, cujo modo de apuração e tratamento dos materiais não é dado de início por nenhuma metodologia.

Cada pesquisador envolvido parte de suas experiências profissionais e pessoais na captura de sons..protest_transport_celebrate depois junta-se as partes para estudá-las, estabelecer relações ‘inauditas’, que não foram previamente pensadas.

Para que serve isso? Bem, no mínimo, para revelar o novo, o desconhecido que habita ao nosso redor.

marcas

capacult100A revista Cult chega à centésima edição e isso me faz lembrar as coisas boas que conheci em suas páginas. Entre elas, um poeta e uma palavra de virar a cabeça.

Neste número comemorativo, antes de chegar ao dossiê Barthes, chamou minha atenção o texto Conhecimento, expressões artísticas e estratégias de vida, de Augusto Rodrigues, responsável pelo Espaço Cultural CPFL. Veja o que ele levanta:

” Um país sem cultura é um país sem identidade, sem personalidade, sem alma até, se considerarmos que viver é – interagindo com o mundo – deixar nele nossa marca.

E a cultura de um povo vai muito além dos diversos tipos de expressão da arte: inclui também a antropologia, a psicologia, a sociologia, a filosofia, a tecnologia. Mas, na sociedade contemporânea, quando os padrões de comportamento não estão mais previamente disponíveis, porém devem todos ser inventados por indivíduos perplexos, esse caleidoscópio necessita de uma organização que ajude as pessoas a entender melhor a complexidade do mundo atual e a criar suas novas identidades. Por essa razão, faz-se necessário colocar uma certa ordem no caos das idéias, que por virem de múltiplas e variadas fontes apresentam aos sujeitos muita dificuldade de entendimento e de sistematização. “

Corresponde ao que chamo lá em cima de transdisciplinar a dispersão. 😉

Meio-problema: até onde se sabe, sujeitos perplexos são incapazes de planejar e criar estratégias, de refletir ou elaborar qualquer pensamento lógico. Por definição, perplexidade é o estado de suspensão (próximo ao transe), no qual não sabemos o que pensar, como agir. Auge da surpresa.

Meia-solução: o caráter ambivalente da perplexidade, não registrado nos dicionários. Se num tempo ela paralisa, em outro (mais raro) ela inquieta e mobiliza. Quem procurar, irá encontrar marcas de perplexidade nos quatro pilares do conhecimento humano. Levantando questões nas filosofias e nas artes, tentando respondê-las nas religiões e nas ciências.

Conversa longa. Voltaremos a ela depois. Por ora, vale comemorar os cem números de uma revista de qualidade. Bela marca.

covermundo

No programa de fim de semana, visitarei o Overmundo para aprender como funciona. A proposta é bacana e parece que a estrutura também. Promete ser um ambiente para se conhecer melhor a produção cultural brasileira sem interferências diretas da grande media.

Prá maioria, isso nada significa, mas "… qualquer pessoa pode pegar os códigos desenvolvidos pelo site e desenvolver o seu próprioovermundo Overmundo ou outro site parecido com ele, desde que esse site seja também aberto e livre".

Ok. mas se funcionar direito, quem irá querer covermundos?

nanoesculturas

As formas lembram as primeiras imagens produzidas por computador em uma côr, somente com caracteres ascii que hoje viraram peixinhos, elefantinhos, vasinhos e cavalinhos (de tróia) a infestar os orkuts da vida.

natureSó que agora, como se diz, o buraco é bem mais embaixo: manipulação átomo por átomo, em escala nanométrica, que significa dividir um milímetro por um milhão e fuçar nos DNAs, recombinar partes de moléculas fazendo nanoesculturas, ou no dizer dos autores, origamis.

Entre elas está o menor mapa das Américas (na imagem ao lado, o último), mais fininho que um fio de cabelo. Não serve para consultas, óbvio, mas atiça um bocado a imaginação de cientistas, pesquisadores e ficcionistas.

A mania de mexer com o muito pequeno vem de longe. Os miniaturistas orientais na Idade Média já brincavam de pintar árvores em grãos de arroz e, imagino, antes deles, outros fazendo arte em presas de mamute, pedrinhas lascadas ou nacos de madeira. O manejo é o mesmo, só mudam os instrumentos e as dimensões. 

ler as cidades

Ainda no material sobre semiótica e semiologia citado abaixo, esta entrevista com Lucrécia D’Aléssio Ferrara, professora da PUC, é um convite a desenvolver novos tipos de leituras, fora dos livros, dos jornais e da internet: “A cidade é uma unidade de percepção, onde tudo é signo, linguagem. Ruas, avenidas, praças, monumentos, edificações configuram-se como uma realidade sígnica que informa sobre seu próprio objeto: isto é, o contexto“. Diz a professora:

A megalópole do século XXI com mais de 10 milhões de habitantes não escreve o fim da história urbana, mas requer a escritura de outros capítulos cujos autores estão dispersos na realidade singular e contraditória dos lugares do mundo, mas despertos para a urgente construção de um meta-território que deve caracterizar-se pelo exercício de apropriação social e cultural das raízes que sedimentam a identidade coletiva.

É possível que, habituados a uma ação comandada e pré-definida, entendamos que esse contágio está à beira da utopia, porém essa ação surge como possibilidade de mobilizar uma consciência universal que constitui, talvez, a possível mudança do mundo contemporâneo. As manifestações populares que, à maneira de fóruns sociais, são apresentadas diariamente nos jornais impressos, falados e digitais são claros indícios de reações coletivas que acenam nessa direção e nos vários cantos do planeta.

semiótica e semiologia

Houve um tempo em que pensei que semiótica era questão de tapar um olho e, ao estilo dos piratas, ver o mundo com um olho só. Mas isso não passava de brincadeira-defesa de minha irônica ignorância.

magritteAinda bem que existe gente que nem liga prá isso e trabalha para nos esclarecer, tirar a venda, isso sim, dos dois olhos. É o que faz a revista ComCiência (ed.74). Impossível sair da leitura olhando as coisas – objetos, pessoas, signos, relações – do mesmo modo que antes. Até porque todo corpo é um corpomídia : ao processar informações, altera a si e ao ambiente em que vive. No mais das vezes, muito muito sutilmente.

phylotaxis

Tratar e organizar informações é um dos maiores desafios de nossos tempos. Phylotaxis tem como proposta mesclar informações científicas e culturais (ainda como se fossem coisas distintas), destacando exatamente a zona de fronteira. Resulta numa fascinante e provocativa experiência, lembrando que Phyllos significa folhas (de plantas, de livros) e Taxis, ordem. Veja lá.

phyllo.jpg

sucata em alta

sucataDesde o fim de 2005, o quilo da sucata de alumínio considerada de “primeira linha” foi reajustado pelos atacadistas em mais de 20%. Passou a ser negociado de R$ 5,20 a R$ 5,90, segundo empresas de fundição. Em meados do ano passado, o material era vendido por R$ 4,00 o quilo.

Ao se despedir da próxima latinha de cerveja (ou chá ou refri, vá lá), não esqueça de dizer “até qualquer dia”.

mais do mesmo

Tá no escriba, no blue bus e não custa repetir:

Estudo pinçou um dia – 11 de maio de 2005 – e analisou como jornais, TVs, radio e internet acompanhavam os acontecimentos. Concluiu que havia enorme repetição e amplificação dos mesmos temas. Naquele dia, o Google News indicava 14,000 matérias, mas elas se concentravam em apenas 24 assuntos!

E continua:

… As emissoras locais trataram de tempo, trânsito e crimes. Os blogs, por outro lado, dispensaram a maior parte das ‘breaking news’ e se concentraram em assuntos mais amplos e menos imediatistas.

Viva a diversidade! Sem ela, o horizonte fica restrito.