Entre as narrativas de origem que venho colecionando não poderia faltar o clássico Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, escrito nos idos de 1750 pelo grande inspirador do romantismo e do humanismo Jean-Jacques Rousseau.
No Segundo Discurso, como é chamado (o primeiro trata de Ciências e Artes), Rousseau toma a inscrição do Oráculo de Delfos – conhece-te a ti mesmo – como ponto de partida e de chegada. Assim ele argumenta: “…como conhecer a fonte da desigualdade entre os homens, se não se começar por conhecer os próprios homens?”
Ele então cria a figura do homem natural, primitivo, que é sempre bom, para compará-lo ao de sua época (que pouco mudou em essência até nossos dias), corrompido pelos costumes e pela civilização.
No início da leitura, cheguei a pensar que no tempo em que Rousseau redigiu o Discurso não havia a palavra diversidade, mas ele mesmo a utiliza algumas vezes para referenciar coisas ou qualidades, nunca os humanos.
“Ora, se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da mesma maneira e fazem exatamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela desigualdade de instituição.”