crescei e endividai-vos

Num dia qualquer desse mês, segundo as projeções do popclock, a população dos Estados Unidos chegará aos 300 milhões de habitantes. Se antes marcas como essa eram motivo de celebração, hoje é de preocupação, principalmente por se tratar do povo que mais recursos naturais consome e destrói no planeta.

o blog em setembro

Todo fim de mês dou uma olhada nas estatísticas do blog para ver os posts mais clicados. Isso não traduz necessariamente os que foram mais lidos: tem o lance de clicar para ver ou escrever comentários, tem aqueles que chegam aqui trazidos pelos sites de busca.

setembro2006.png

Vendo estes números, fiquei convencido de que o mundo quer me dizer alguma coisa, mandar-me mensagens, avisos, sinais, tal qual um personagem de Italo Calvino no livro Se um Viajante, que estou relendo.

Claro que fui sugestionado, mas ao separar os doze mais mais da relação, me dei conta que o Revolução dos Bichos – que já foi campeão por aqui durante uns meses – aparece por baixo e Fênix, disparado, voa lá no alto.

Por mais que eu resista, não consigo deixar de ligar esse sinal com as eleições de amanhã. Embora um renascer de qualquer coisa pareça extremamente remoto, improvável mesmo, nunca se sabe.

enfim, a felicidade

comentei o absurdo de comparar as riquezas dos países pelos imprecisos e frios números do PIB (produto interno bruto). Nunca é demais lembrar a instigante fala do filósofo catalão Julián Marías:

No mercado de Olinda, que é um mercado pobre,
há mais alegria do que em toda a Suíça!

mercado de olinda

Claro que a frase deve ser tomada em seu sentido figurado, pois até que os suiços têm lá seu bom-humor.

schweiz

Importa entender é o espírito da coisa: alegria, felicidade, têm ligações mais estreitas com a soltura e a espontaneidade do que com a riqueza material e a dita ‘produtividade’.

Mudança de Paradigma

O “Happy Planet Index”, recentemente divulgado pela New Economics Foundation e pelo Friends of the Earth, contrapõe o nível de consumo de cada país ao impacto ambiental causado, e considera além da expectativa de vida também a “taxa de satisfação” com o próprio modo de viver de 178 povos do planeta.

vanuatuDisso resulta que o país mais feliz do mundo chama-se Vanuatu, um arquipélago localizado no Oceano Pacífico, próximo da Austrália.

Segundo o estudo, seus pouco mais de 200 mil habitantes aproveitam ao máximo os recursos da agricultura em pequena escala, da pesca e do turismo, para viver uma vida longa, sadia e cheia de prazeres.

Em termos de PIB, que para os estudiosos representa uma forma destrutiva de encarar o desenvolvimento, Vanuatu ocupa o 201º lugar das 233 economias medidas.

A felicidade italiana

Considerando o novo HPI entre os países do G8, a Rússia detém o pior índice ocupando o 172º lugar, os Estados Unidos aparecem em 150º, a França em 129º a Inglaterra em 108º, o Japão em 95º e a Alemanha em 81º.

A Itália, em 66º lugar, surge como a nação industrializada que explora seus recursos sociais e naturais da forma mais balanceada, obtendo em troca um nível melhor de bem-estar da população.

Outro dado interessante é que os 10 primeiros lugares no HPI são basicamente ocupados por países latino-americanos, enquanto nos 10 últimos estão países africanos e da europa oriental.

O estudo conclui que nos últimos 50 anos o padrão de vida dos países ocidentais evoluiu de maneira espantosa, mas nem por isso tornou seus povos mais felizes. Dá pra discordar?

dados: sociedade da informação

e2006O extenso relatório e-España2006 (342 páginas) apresenta, numa perspectiva geoestratégica, ricas análises sobre o avanço da Sociedade da Informação espanhola.

Os dados são fartamente ilustrados e abrangem as áreas de telefonia fixa e móvel, tevê digital, internet e toda a gama de serviços eletrônicos possíveis. O primeiro capítulo traz dados comparativos do mundo inteiro, como esse abaixo:

net_esp.png

O trabalho foi patrocinado e editado pela Fundación Auna (cópia em pdf pode ser baixada aqui) e é um belo exemplo para outros países.

A dica veio do blog GJOL – Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line, da UFBA. (falando nisso, o ítem 7.1 do relatório trata exatamente de “La explosión de la blogosfera” e o 7.2 de “El periodismo on-line”).

itália 26 x frança 37

O escândalo de corrupção no futebol italiano envolve algumas das principais equipes do país.

apoio ao clubeQuatro clubes da Série A – Juventus, Milan, Lazio e Fiorentina – são acusados de combinar resultados e correm risco de rebaixamento e perda de títulos, além da possibilidade de serem impedidos de participar de competições européias.

Vinte e seis pessoas, incluindo dirigentes, árbitros e bandeirinhas, também enfrentam acusações de combinar resultados de jogos e de deslealdade, mas todos se dizem inocentes.

X

Escândalo de corrupção na França leva a 37 condenações

O ex-diretor do departamento de habitação de Paris e seu vice estão entre as pessoas que foram multadas em até 60 mil euros e receberam penas de prisão suspensas.nada de errado

Os veredictos se seguem a uma investigação que durou 12 anos sobre milhões de dólares em pagamentos feitos por construtoras para conseguir contratos públicos.

Fonte: BBC (Itália) e BBC (França).

propaganda no orkut

Se funciona? veja a diferença de acesso ao caçula da família google, o joga.com (lançado em abril no embalo da copa), desde que surgiu um banner na página inicial do orkut, dias atrás.

orkut_graph.png

Os dados são do medidor de tráfico web alexa.
(se o joga vai emplacar ou não é outra coisa).

Interessante notar é que o banner direciona para uma extensão firefox, independente do navegador utilizado.
Testei com ópera, iexplorer, flock e, claro, firefox.

maquinando a prazo

Manuel Cristovão da Silva sempre quis ter um computador mas, com o salário que recebe como funcionário da Secretaria da Saúde da Prefeitura de São Paulo, nunca sobrava dinheiro no fim do mês. Só agora, aos 55 anos de idade, ele conseguiu ter seu primeiro desktop. Recentemente, Silva foi a uma loja do Extra e comprou um PC da marca Novadata, pelo qual pagará 24 prestações mensais de R$ 70.
(valor online)

As vendas de pecês populares subiram trocentos por cento nos últimos meses e deverão seguir firme e forte até o final do ano por três motivos, segundo os varejistas: dólar baixo (redução de 27% no preço dos micros), a MP do Bem, que isentou os equipamentos de PIS-Cofins, e os financiamentos do programa Computador para Todos do governo federal.

Pô, Manoel, legal hem, seja bem vindo. Mas seria ainda melhor se você guardasse os setenta por mês (que não sobravam) numa poupança, que antes dos 24 meses poderia comprar um micro bem melhor.

pc-popularAcho legal que os micros rodem software livre, mas fico em dúvida se o computador para todos foi criado para vender pecês ou para prender ainda mais os trabalhadores nas garras dos crediários. Sei lá. Tem quem goste.

filé mignon na chapa

E disse assim nosso ministro da pouca fala:

“Nunca a alimentação no Brasil esteve tão barata como agora”, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Se você olhar o preço da carne, do milho, do arroz e de vários alimentos, o brasileiro pode comprar pela metade ou dois terços do preço que pagava. Hoje o brasileiro pode comer filé mignon, mesmo as famílias com menos recursos”. (Valor)

Dá a entender que as famílias sem recursos moram em outro país, decerto invisível a quem olha a vida através de números e gráficos sobre mesas de restaurantes chiques.

Ainda não sei se incluo essa maravilha na série aiaiai ou inauguro com ela uma outra, Maria Antonieta, que havia pensado adotar durante o próximo período eleitoral.

..^..

O Mapa do Boi

carnes
A – Coxão duro
B – Patinho
C – Picanha
D – Alcatra
E – Maminha
F – Coxão mole
G – Contrafilé
I – Filé mignon
J – Filé de costela

* as partes com números ficam reservadas a certos economistas.

 

eficiência governamental

BRASÍLIA – O governo federal arrecadou um total de R$ 34,966 bilhões em impostos e contribuições no mês de abril, informou há pouco a Receita Federal. Trata-se de um recorde para meses de abril…

Diz aí: se as áreas de Saúde, Educação e Cultura tivessem a mesma atenção que a Arrecadação, não seria uma beleza?

Poderíamos até economizar em gastos com Segurança.

o discurso-verniz do ecad

Como o assunto envolve todos os criadores e consumidores de música, não sei se existe algum ser pensante no Brasil, nosso país musical, por fora da "polêmica dos direitos autorais".

Nessa entrevista da superintendente do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), Glória Braga, existem dados bem interessantes em contraste com argumentos que não correspondem à percepção de boa parte da comunidade musical.

malaSergio Freitas: "O público não tem conhecimento das situações que envolvem os músicos profissionais e o quanto eles ficam vulneráveis a esta verdadeira máfia do sub mundo da produção musical no Brasil. As gravadoras, os produtores, empresários e a mídia em geral vivem como sanguessuga do trabalho dos que verdadeiramente criam a música brasileira."

Ôpa, ele não falou em ECAD? Então vejamos o que diz Roberto Maia, nessa entevista ao Link, mês passado:

"Os critérios do Ecad merecem uma revisão há tempos. Para quem trabalha em rádio, como eu trabalhei a vida inteira, a maneira como o Ecad afere as músicas tocadas, através de listas fornecidas pelas próprias emissoras ou por amostragem, é absurda e não reflete nenhuma realidade."

Não há como discordar de Glória Braga quando ela diz o seguinte: "O que há de se perseguir é a convivência lícita e possível entre os criadores e todos aqueles que pretendam de uma forma ou de outra ter acesso a essas criações". Mas falta afinar melhor os instrumentos de conversação.

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não vale quanto pesa

A matéria “Quanto custa um deputado federal?” do site Contas Abertas traz um monte de números sobre os gastos da nação com os deputados federais. Cada um suga mensalmente dos cofres públicos – dinheiro nosso – cerca de 100 mil reais, dentro das leis e esquemas que eles mesmos vão criando, mandato após mandato.

“Em 2005, as despesas da Câmara dos Deputados chegaram a R$ 2,3 bilhões. Dinheiro suficiente para aumentar em 8 vezes os investimentos federais em educação, no mesmo período.”

Nenhum deputado, por melhor que seja, vale cem vezes o que vale um professor primário, nem duzentas vezes o que valem os lixeiros (estes limpam as cidades, ao contrário da maioria dos políticos profissionais).

congressoA história dos privilégios exclusivos no Brasil tem raízes profundas, mas não é eterna. Eterno é nosso bom humor, nossa capacidade de fazer piadas. Já passaram por aqui um presidente com ‘vassourinha’ para limpar a sujeira (e não limpou), a disciplinada turma dos militares (que se sujou), o ‘caçador de marajás’ (que foi cassado), o do topete e dos chiliques, o ‘doutor honoris causa’ (que só causou), o ‘operário’ (que vestiu a gravata bonita).

Seja qual for a próxima invenção política, não creia. Trate como ilusionismo, marketing e coisas do gênero. Não aposte em salvadores da pátria, nem em ‘representantes’ de seus interesses. São historias que nos contaram quando pequenos e que já perderam a graça.

blog amoroso

brasileiroNão sei como, mas alguém chegou aqui procurando por ‘blog amoroso’. Então, é com todo o carinho que compartilho a matéria: “Brasileiros trabalharão 167 dias este ano só para pagar tributos“.

Fazendo contas: em 2005, a sociedade brasileira injetou nos cofres públicos a bagatela de R$ 754,4 bilhões, quase 40% da riqueza econômica que conseguiu produzir.

Em média, cada um de nós (chamados pelo eufemismo de contribuintes) ‘contribuiu’ com R$ 4,16 mil em tributos, mais das vezes embutidos nos produtos consumidos. Isso nos tomou 142 dias de trabalho remunerado (os que interessam ao fisco). Se este ano a previsão é de 167 dias, sinal de que a coisa piorou. E não só nisso.

No estudo da Consultoria Partner, a quantidade de dias comprometidos com o pagamento de juros [para bancos e financeiras] subiu por causa do aumento da demanda por crédito ao consumo, que foi de R$ 124,2 bilhões para R$ 162,6 bilhões.

Certo, é bem mais fácil ‘governar’ um povo endividado.

terrorismo de mercado

Em sua coluna de hoje, ao focar a troca de personagens no Ministério da Fazenda e as consequentes pressões sobre o novo ministro pelas forças de mercado, Elio Gaspari lembra que "o terrorismo de mercado é um instrumento eficaz de intimidação política. Em certos casos, rende também um dinheirinho fácil". Ele cita algumas dessas ações no passado recente:

Em 2002, a casa bancária americana Goldman Sachs criou o Lulômetro, uma elegante equação destinada a medir a relação entre o dólar e a falta de confiança em "nosso guia". O sábio Paulo Leme, um dos diretores do banco à época da gracinha, jamais imaginaria que o dólar-companheiro pudesse ficar na casa dos R$ 2,10. Também terrorismo a propagação, em 1994, da patranha segundo a qual Lula congelaria a poupança da patuléia (a malvadeza saiu da cabeça do doutor Gustavo Franco e foi divulgada pela assessoria de imprensa do PSDB).

Complicado apurar e punir crimes como esses, né?

marcas

capacult100A revista Cult chega à centésima edição e isso me faz lembrar as coisas boas que conheci em suas páginas. Entre elas, um poeta e uma palavra de virar a cabeça.

Neste número comemorativo, antes de chegar ao dossiê Barthes, chamou minha atenção o texto Conhecimento, expressões artísticas e estratégias de vida, de Augusto Rodrigues, responsável pelo Espaço Cultural CPFL. Veja o que ele levanta:

” Um país sem cultura é um país sem identidade, sem personalidade, sem alma até, se considerarmos que viver é – interagindo com o mundo – deixar nele nossa marca.

E a cultura de um povo vai muito além dos diversos tipos de expressão da arte: inclui também a antropologia, a psicologia, a sociologia, a filosofia, a tecnologia. Mas, na sociedade contemporânea, quando os padrões de comportamento não estão mais previamente disponíveis, porém devem todos ser inventados por indivíduos perplexos, esse caleidoscópio necessita de uma organização que ajude as pessoas a entender melhor a complexidade do mundo atual e a criar suas novas identidades. Por essa razão, faz-se necessário colocar uma certa ordem no caos das idéias, que por virem de múltiplas e variadas fontes apresentam aos sujeitos muita dificuldade de entendimento e de sistematização. “

Corresponde ao que chamo lá em cima de transdisciplinar a dispersão. 😉

Meio-problema: até onde se sabe, sujeitos perplexos são incapazes de planejar e criar estratégias, de refletir ou elaborar qualquer pensamento lógico. Por definição, perplexidade é o estado de suspensão (próximo ao transe), no qual não sabemos o que pensar, como agir. Auge da surpresa.

Meia-solução: o caráter ambivalente da perplexidade, não registrado nos dicionários. Se num tempo ela paralisa, em outro (mais raro) ela inquieta e mobiliza. Quem procurar, irá encontrar marcas de perplexidade nos quatro pilares do conhecimento humano. Levantando questões nas filosofias e nas artes, tentando respondê-las nas religiões e nas ciências.

Conversa longa. Voltaremos a ela depois. Por ora, vale comemorar os cem números de uma revista de qualidade. Bela marca.

nanoesculturas

As formas lembram as primeiras imagens produzidas por computador em uma côr, somente com caracteres ascii que hoje viraram peixinhos, elefantinhos, vasinhos e cavalinhos (de tróia) a infestar os orkuts da vida.

natureSó que agora, como se diz, o buraco é bem mais embaixo: manipulação átomo por átomo, em escala nanométrica, que significa dividir um milímetro por um milhão e fuçar nos DNAs, recombinar partes de moléculas fazendo nanoesculturas, ou no dizer dos autores, origamis.

Entre elas está o menor mapa das Américas (na imagem ao lado, o último), mais fininho que um fio de cabelo. Não serve para consultas, óbvio, mas atiça um bocado a imaginação de cientistas, pesquisadores e ficcionistas.

A mania de mexer com o muito pequeno vem de longe. Os miniaturistas orientais na Idade Média já brincavam de pintar árvores em grãos de arroz e, imagino, antes deles, outros fazendo arte em presas de mamute, pedrinhas lascadas ou nacos de madeira. O manejo é o mesmo, só mudam os instrumentos e as dimensões. 

juros, mentiras e videoteipe

O professor Marcos Nobre e o jornalista Vinicius Torres Freire lembram neste artigo que as altas taxas de juros no Brasil não devem ser entendidas como uma questão exclusivamente econômica. Gostei da abertura:

Por que os juros são tão altos no Brasil? Em termos técnicos, a pergunta é dificílima e, provavelmente, com múltiplas respostas corretas. A solução ideal estaria então em conseguir combinar as várias respostas em uma explicação complexa.

Vai tempo nisso.